Petróleo da noruega já vale mil milhões

Fundo Soberano da Noruega diversifica o seu investimento. Em Portugal alterou a sua participação nas empresas cotadas em bolsa. Em 2016, a rentabilidade mundial subiu 6.9%

O Fundo de Investimento Soberano da Noruega (FISN) lucrou 447 mil milhões de coroas norueguesas (quase 50 mil milhões de euros) em 2016, um resultado que provem do elevado retorno obtido com o investimento em ações.

Portugal não é exceção. O FISN tem participação em 20 empresas cotadas na bolsa portuguesa, num total de 758 milhões de euros. Do total de empresas cotadas em bolsa em todo o mundo, 1,3% conta com investimento do fundo norueguês. Na Europa são 2,3% das companhias cotadas.

O FISN, que tem um valor de mercado de 7,58 biliões de coroas, tem como objetivo aproveitar o melhor possível as suas duas principais características – a sua perspetiva de longo prazo e o seu tamanho considerável – para assegurar retorno e garantir prosperidade às gerações futuras.

No final do ano passado, o maior fundo soberano do mundo tinha investimentos em 77 países e quase 9000 empresas. Do total dos investimentos realizados pelo fundo, 62,5% está alocado a acções, 34,3% a dívida, e 3,2% do capital a investimento imobiliário.

O valor de mercado dos investimentos em ações era em 2016 de 4692 milhões de coroas, o da dívida de 2577 milhões de coroas e o de investimento imobiliário cifrado em 242 milhões de coroas.

O objetivo do FISN é conseguir ter investimentos o mais diversificados possíveis de forma a distribuir o risco e a gerar o maior retorno possível.

De acordo com os dados revelados esta semana pelo Norges Bank – o banco central da Noruega gere o FISN – o total de investimento do fundo em ativos de Portugal cifrava-se em 10,4 mil milhões de coroas norueguesas (1,17 mil milhões de euros). Deste montante, 6,9 mil milhões coroas corresponde a investimentos em empresas portuguesas cotadas em bolsa.

Por comparação com 2015 deixou a sua participação na Martifer e na F. Ramada e reforçou a sua participação nas empresas energéticas, setor que representa mais de metade do portefólio do FISN em ações portuguesas.

Os maiores investimentos estão na EDP e na Galp, com 1,9 mil milhões e 1,2 mil milhões de coroas respectivamente e entre 2015 e 2016 houve um reforço do investimento na REN para mais de 185 milhões de euros.

Também no setor financeiro o FISN reforçou a sua posição no BCP para 1,25% do capital e no BPI para 0,77% já no final do ano passado. Em percentagem de capital, as cotadas onde o fundo tem maior peso são os CTT (3,71%) e a Ibersol (3,68%).

Entre as reduções no investimento em 2016 destaca-se a Mota-Engil, cujo volume caiu quase para metade (7,9 milhões de coroas por comparação com os 14 milhões do ano precedente).

No ano passado o FISN investiu ainda quase três mil milhões de coroas em dívida soberana – em 2015 o investimento foi pouco superior a mil milhões de coroas.

O volume do ano passado é o mais elevado desde 2008, ano em que o fundo gerido pelo Norges Bank investia 14 mil milhões de coroas em obrigações do Estado português.

Geografia

As obrigações soberanas representam 34,3% da carteira de investimentos mundiais do FISN e os ativos imobiliários 3,2%. No entanto, em Portugal, este fundo não tem qualquer investimento deste tipo.

Por geografia, é nos EUA que está concentrada a maior dos investimentos do fundo em de 2015 para 2016 aumentaram de 40% para 42,3%. Já a exposição do fundo à Europa caiu de 38,1% para os 36% e à Ásia baixou para 17,9.

A aposta nos emergentes representando 10% da carteira de investimentos do fundo soberano.

A maior parte do investimento do fundo é em ações e foi este que permitiu que o retorno tivesse ascendido 6,9%, no ano passado. Um ano antes a rentabilidade tinha sido de 2,7%. As ações apresentaram uma valorização de 8,7%, enquanto as obrigações subiram 4,3% e o imobiliário 0,8%.

«O fundo gerou um retorno de 6,9% após um ano marcado por eventos políticos e incerteza», revelou o presidente executivo do FISN, citado pela agência Bloomberg. «Todas as classes de ativos geraram retornos positivos, mas foi o forte desempenho das ações na segunda metade do ano que puxou pelos resultados do fundo». acrescentou Yngve Slyngstad.

Depois da eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, os mercados acionistas dispararam. A promessa do líder norte-americano de fortes investimentos públicos, associada à menor regulação no setor financeiro, tem animado os investidores. As bolsas norte-americanas têm atingido recordes consecutivos e o índice Dow Jones ultrapassou esta semana os 21000 pontos.

2016 foi o quinto ano consecutivo de ganhos do fundo criado pelo Estado norueguês com os lucros do petróleo e numa altura em que governo de Oslo retirou dinheiro ao FISN para cobrir despesas.

Petróleo

Esta é um questão que está a preocupar as autoridades da Noruega e o governador do Banco Central da Noruega tem alertado para os perigos do aumento da despesa pública com recurso às receitas petrolíferas.

Segundo Oystein Olsen, e com o objetivo de proteger o FISN, é necessário contrariar o aumento dos gastos públicos com receitas da exploração petrolífera. Esta representa 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e 20% do orçamento do governo da Noruega.

«Com este elevado nível de gastos das receitas petrolíferas, há o risco de uma redução acentuada no capital do fundo», disse Oystein OlsenOlsen. «Isto pode, por exemplo, acontecer se uma recessão global desencadear tanto uma queda das receitas de petróleo e rendimentos baixos ou negativos do capital do fundo», acrescentou o responsável pelo Norges Bank.

No ano passado o executivo norueguês foi obrigado a recorrer ao fundo soberano pela primeira vez para fazer face ao défice orçamental e para animar uma economia atingida pela baixa dos preços do petróleo.

A manter-se esta política Olsen indicou que o maior fundo soberano do mundo poderá registar perdas na ordem dos 50% nos próximos dez anos.