1)Os sócios do Sporting votaram racionalmente. Sem qualquer reserva mental, há que reconhecer que Bruno de Carvalho, passados quatro anos, deixaria sempre um Sporting muito melhor do que aquele que recebeu – o clube leonino tem uma projecção mediática que não tivera durante largos anos; luta pelo título de campeão nacional, o que parecia algo inalcançável quando Bruno de Carvalho assumiu a presidência; financeiramente parece estar melhor; fala grosso com o Benfica e com o Porto, o que satisfaz emocionalmente os sócios e adeptos do Sporting. Portanto, a vitória com estes números tão expressivos mostra a gratidão e o reconhecimento dos sportinguistas para com Bruno de Carvalho;
2) Madeira Rodrigues foi humilhado eleitoralmente, mas teve o mérito de tornar emotiva a eleição, o que fez dela a mais participada de sempre da história do Sporting. E o engraçado é que Pedro Madeira Rodrigues acaba por reforçar a liderança de Bruno de Carvalho. Porquê? Porque talvez se não avançasse, não teria havido a afluência às urnas que houve ontem; tão-pouco a vitória do actual e futuro Presidente do Sporting teria tido o impacto e a força que teve. Para a história o que fica é que Pedro Madeira Rodrigues permitiu que Bruno de Carvalho tivesse uma noite triunfal, tornando-se um Presidente incontestado e, nos próximos tempos, incontestável;
3) Ligado ao ponto anterior, temos que não ficou bem a Bruno de Carvalho o ter ignorado completamente o seu adversário, no discurso de vitória. E ter ignorado, ao que parece, o telefonema de congratulações de Pedro Madeira Rodrigues.
Não fica bem a um líder não saber ganhar – é que a dimensão ética no exercício de cargos directivos é também muito importante para efeitos de legitimação do poder. Da afirmação da autoridade. Se o objectivo era humilhar Pedro Madeira Rodrigues (ainda mais!), então, Bruno de Carvalho errou: se tivesse enviado uma mensagem a Pedro Madeira Rodrigues, ficaria ainda melhor na fotografia da noite – e deixaria Madeira Rodrigues com a imagem histórica eterna de “perdedor”;
4) Por muito popular e politicamente incorrecto que se queira ser, há um limite: o respeito pelas instituições e, neste caso, pela grandeza do clube. E a grandeza do clube também se expressa por uma certa solenidade, uma certa formalidade, pela defesa, enfim, das leis, dos regulamentos e das práticas do clube.
Pois bem, impõem-se duas observações: primeiro, justificar-se-ia uma palavra de explicação dos dirigentes do Sporting sobre a demora na divulgação dos resultado.
À primeira vista, parece que a demora se deveu, em parte, pela vontade de Bruno de Carvalho de fazer um “show” nocturno na rua. Se o foi e foi concertado com Pedro Madeira Rodrigues, tudo bem, mas expliquem.
Segundo: Jaime Marta Soares – actuando na sua qualidade de Presidente da Assembleia-Geral do Sporting – não pode aceitar divulgar os resultados eleitorais oficiais, enquanto a claque do Sporting grita efusivamente!
E cânticos em que se diz: “ Pedro Madeira Rodrigues, vai para o Carvalho (só que em vez de usarem o apelido do Presidente do Sporting, utilizam calão hard core). Isto até poderia levantar problemas legais complicados- para além do efeito político de adensar as suspeitas sobre as alegadas anomalias no funcionamento das Assembleias-Gerais do Sporting, denunciadas pelo novo inimigo de eleição de Bruno de Carvalho, André Ventura. Porventura, injustamente, as por vezes entre o “parece” e o “ser” há uma distância mínima. Se Jaime Marta Soares se sujeita a isto (divulgar os resultados das eleições aos gritos), sujeita-se a tudo. Era escusado, numa noite que foi perfeita para o Presidente do Sporting.
5)Hoje marca o início de uma nova era do Sporting. Este Sporting é um novo Sporting. O Sporting elitista, das famílias aristocráticas, de uma certa linhagem, dos bons costumes e da cortesia tem os dias contados. Colapsou ontem. Resta saber se está em coma ou se morreu definitivamente – a resposta vai depender da capacidade de Bruno de Carvalho/Jorge Jesus conquistarem o título nos próximos dois anos.
Um pormenor curioso: enquanto Eduardo Barroso defendia que Bruno de Carvalho gosta de um partido bem-educado, elitista como sempre, na TVI 24 – Bruno de Carvalho no seu discurso afirmou expressamente estar farto do elitismo e quer um Sporting popular. O que vai levantar problemas muito complicados para o Presidente Carvalho nos próximos tempos: é que os quase 90% trazem uma nova responsabilidade e representam uma base de apoio eleitoral alargada, onde coexistem as claques mais fanáticas com a elite mais conservadora e racional como José Maria Ricciardi e António Patrício Gouveia. Como agradar as ambas? Só ganhando.
6) Enfim, muitos parabéns a Bruno de Carvalho, que teve uma vitória merecida (confessamos que até apreciamos a sua rebeldia) e que tenha sucesso no seu mandato (para nós, preferencialmente, a lutar pelo segundo lugar com Porto e Braga, porque, em primeiro lugar, esperamos que esteja o Glorioso, Sport Lisboa e Benfica, com todo o respeito pelos sportinguistas e pelo Sporting).
Sobretudo, que Bruno de Carvalho exponencie a escola de formação do Sporting, cujos méritos são imensos e que muito têm contribuído para o futebol português. Que continue a ser uma escola de talentos.
Porque, também no futebol, Portugal está sempre primeiro.