A Nova Portugalidade, o movimento que viu cancelada a sua conferência na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova não esconde as suas posições saudosistas sobre o antigo Império.
E esta foi uma das razões que levaram os alunos da faculdade a oporem-se à realização da conferência organizada pelo movimento.
Diz a Nova Portugalidade: “A sugerir a reaproximação entre nações de fala lusa está, mais que a economia, a necessidade – que é justa e natural – de reerguer uma família de povos que só por trágico equívoco se desfez”.
Ontem, em entrevista à plataforma “Sapo24”, Rafael Pinto Borges, um dos dirigentes da Nova
Portugalidade e militante da Juventude Popular [a juventude partidária do CDS-PP], admitiu a sua “estima pessoal, política e intelectual” por António Oliveira de Salazar, o arquiteto do Estado Novo. Borges considera o antigo ditador “uma referência em tudo”.
Uma posição que é evidente nas páginas das redes sociais do jovem ativista.
Chorando Salazar
No Facebook, o mentor tem partilhada uma fotografia do momento em que deixou flores na campa de Salazar, em Santa Comba Dão. Também as partilhas de posições públicas de Marine Le Pen e da Frente Nacional são comuns na página do ativista. Outro dos ídolos de Rafael Pinto Borges é o polémico e recém empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No Twitter, escreve: “O @realDonaldTrump [Donald Trump] esteve estupendamente. Os americanos voltaram a controlar o seu país e ofereceram uma nova era ao mundo. Oxalá cá chegue”.
Numa plataforma online com artigos de opinião, Borges chega mesmo a assinar uma crónica de agradecimento ao presidente dos Estados Unidos, sustentando que “passo a passo, documento a documento, Trump vai tornando o mundo mais limpo”.“Só podem agradecer-lhe os patriotas de todas as longitudes”, conclui.
Noutro artigo publicado no mesmo site, desta vez sobre o seu movimento, Borges esclarece que a “Nova Portugalidade existe para defender esse Portugal maior que si próprio, derramado pelo globo, assertivo e confiante que fomos e devemos voltar a ser”.
Argumentos que o jovem já terá apresentado numa moção durante um congresso da juventude partidária do CDS, apurou o i. No entanto, a moção foi chumbada pelos jovens centristas. Posteriormente, Borges Pinto abandonou a militância partidária mas mantém ligações à Juventude Popular, sendo vicecoordenador do gabinete de estudos da ‘jota’. O jovem integrou também a corrente “Esperança em Movimento”, uma tendência alternativa à direção de Assunção Cristas no partido.
Choque Frontal
Conhecidas todas as posições do movimento o alunos da FCSH da Nova apovaram uma moção contra a realização da conferência, havendo mesmo algumas “ameaças”. A direção da instituição acabou por cancelar a conferência que contava com Jaime Nogueira Pinto.
O tema anunciado era “Populismo ou democracia? O Brexit, Trump e Le Pen”. Contactado pelo i, João Nuno Paulo, o aluno que encabeça a moção assinada em reunião-geral, afirmou:“O nosso problema não é com Jaime Nogueira Pinto, queaté tencionamos convidar para debates, mas com a Nova Portugalidade”. O aluno, que faz parte da associação de estudantes da FCSH, diz ainda que os signatários da moção querem “democracia da esquerda à direita”, mas que “a liberdade de expressão não é dizer tudo o que se quer”, recusando-se a pactuar “com quem considera a descolonização e o 25 de abril como um trágico equívoco”.
O responsável pela moção dos alunos diz que os membros do movimento Nova Portugalidade“são uma recuperação do fascismo que não tem nada a ver com a nossa democracia ou com a Constituição da República”, defende João Nuno Paulo, que é também militante do Bloco de Esquerda. Sobre a sua filiação partidária, o jovem considera que “não é relevante” para o caso, pois “há mais pessoas a assinar a moção” que não partilham da mesma militância.
Acerca das alegadas ameaças que os estudantes endereçaram à realização do evento, João Nuno Paulo garante que “são totalmente mentira”. “Antes de o cancelamento ser anunciado, tínhamos planeado ir ao debate ordeiramente, participando sem violência”, diz.
A página oficial da associação estudantil acusava o movimento Nova Portugalidade de se referir de “forma indireta à descolonização, no seu manifesto, como trágico equívoco”. “Acreditamos que nada é exclusivamente académico, como a descrição deste evento quer dar a entender, e que tentar fazer crer às pessoas que não há substrato político no que está a acontecer é, no mínimo, desonesto”, prossegue a nota.