Localização da nova maternidade de Coimbra volta a estar em estudo

Governo criou grupo de trabalho para estudar dossiê até 15 de abril. Médicos, surpreendidos com a decisão, acusam tutela de “inabilidade”

Há menos de três meses, o local para a construção da nova maternidade de Coimbra, um projeto em cima da mesa há mais de dez anos, parecia estar fechado. O presidente do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, que integra as atuais maternidades Bissaya Barreto e Daniel de Matos, revelou que o governo tinha dado autorização ao projeto que previa o novo complexo para o perímetro dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC). Esta semana, o dossiê reabriu: a tutela criou um grupo de trabalho para estudar a localização da nova maternidade.

O volte-face foi ontem questionado pela Ordem dos Médicos do Centro, que diz estar em curso um protelamento da construção da maternidade – que vai concentrar os serviços das atuais – e lamenta a “inabilidade” do governo. “É inadmissível voltar a criar mais um grupo de trabalho quando, em 2012, foi delineado um projeto com base numa avaliação técnica multidisciplinar”, disse a Ordem em comunicado.

Carlos Cortes, presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, revelou ao i que a decisão do governo apanhou de surpresa os médicos da cidade. O despacho, publicado na segunda-feira, pede ao grupo a entrega de um relatório até 15 de abril, “a fim de habilitar a uma decisão política sobre a matéria”. O mesmo estudo deve incluir a identificação de locais possíveis para a implementação da unidade, dimensão do projeto, custos estimados, potenciais melhorias na gestão de recursos e redução de custos a obter.

Autarquia envolvida O despacho indica que o grupo de trabalho vai incluir dois elementos da Administração Regional de Saúde do Centro, dois elementos do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e um elemento da Câmara Municipal de Coimbra. No início desta ano, foi público que a autarquia tinha uma visão diferente sobre o futuro da maternidade. O presidente da câmara defende a construção “onde se revele a melhor opção, seja no espaço dos HUC, seja aproveitando instalações ou edificações de que o Estado disponha e que possam ser requalificada”, disse em janeiro, citado pelo diário regional “As Beiras”. Mas Manuel Machado revelou que preferia que nova maternidade tivesse outro destino, um local com menos problemas de acessos e estacionamento, dando como exemplo o Hospital dos Covões.

O centro hospitalar já tinha tudo planeado e o presidente José Martins Nunes chegou a especificar que a maternidade seria nos HUC, entre os serviços de psiquiatria e de fisioterapia, prevendo um investimento de 16,8 milhões de euros. O concurso para a obra seria lançado entre este ano e o próximo, para maternidade abrir até 2020. O i sabe que este novo desenvolvimento apanhou de surpresa a própria instituição.

Ontem não foi possível obter um comentário do administrador. Já Cortes contesta a opção pelos Covões, defendendo que a maternidade deverá estar integrada num hospital central, com urgência e outras especialidades,

É a reforma hospitalar? O grupo da nova maternidade não foi o único criado esta semana pela tutela. O ministério da Saúde instituiu ontem um segundo grupo de trabalho para “consolidar e validar as tarefas já realizadas para promoção” da reabilitação do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde, pedindo também um relatório até 15 de abril.

A Administração Regional de Saúde Norte revelou ao i que está em causa avaliar as necessidades do centro hospitalar em matéria de equipamentos, que “pela sua natureza, uso, longevidade e consequente desgaste” poderão necessitar de substituição.

A ARS reconhece que esta situação é semelhante a outras unidades do SNS, mas até agora só Vila do Conde foi objeto de um despacho deste género. Nos últimos meses, a tutela pediu levantamentos aos hospitais sobre equipamentos a substituir mas ainda não foi apresentado o plano de reequipamento tecnológico do SNS, prometido no ano passado.

O i tentou obter um esclarecimento da tutela sobre a criação de novos grupos de trabalho e sobre a divulgação do plano, mas não obteve resposta.

É a reforma hospitalar a andar de novo? Carlos Cortes duvida: “criam-se grupos de trabalho para tudo. Mas chegamos a ano e meio de governo, e apesar de ter mudado a forma de apresentar as coisas, é mais do mesmo.” Já Alexandre Lourenço, presidente do Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, acredita que estes dois grupos de trabalho serão “casos pontuais” e defende que já houve medidas concretas, como o início da liberdade de escolha no acesso a consultas no SNS.

O responsável alerta, porém, que uma reforma hospitalar “profunda e necessária” requer autonomia na gestão dos hospitais, a criação dos centros integrados de responsabilidades e uma revisão de carteiras de serviços das unidades. Os dois primeiros pontos estão prometidos pela tutela, o último bloqueou na anterior legislatura. No imediato, diz Alexandre Lourenço, é “urgente” o investimento nos equipamentos obsoletos, ainda por concretizar.