Maçonaria. Congresso junta 200 maçons a pensar no futuro

Congresso do GOL começa hoje. Só podem participar maçons, mas antes de as portas se fecharem realiza-se uma conferência aberta ao público com Guilherme d’Oliveira Martins e Irene Pimentel

Começa hoje o congresso do Grande Oriente Lusitano (GOL). Cerca de 200 maçons vão discutir durante três dias, no Palácio Maçónico, em Lisboa, a “organização, funcionamento e finalidades do GOL no século xxi”.

Só podem participar neste congresso os membros do GOL, mas os maçons querem dar um sinal de abertura e, antes do início dos trabalhos, vão promover uma conferência pública, no Palácio Foz, para analisar “o papel da maçonaria nos dias de hoje”. Foram convidados para esta iniciativa o ex- -ministro das Finanças Guilherme d’Oliveira Martins e a historiadora Irene Pimentel. O debate será moderado por Carlos Magno, presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Ao i, Carlos Magno explica que a ideia da maçonaria foi “convidar pessoas que estão completamente fora da organização” e que aceitou o convite por “pura curiosidade intelectual”.

As portas fecham-se no sábado e domingo. Cabe ao grão- -mestre do GOL, Fernando Lima, abrir os trabalhos e estão previstas cerca de 40 intervenções relacionadas com o funcionamento e o futuro da maçonaria.

Todas as intervenções foram previamente apresentadas à comissão organizadora dez dias antes do congresso. Aos participantes foi comunicado com antecedência que “as comunicações não deverão exceder os dez minutos e deverão ser entregues em papel e suporte digital, devendo ainda ser acompanhadas de resumos das mesmas não excedendo as dez linhas. O não cumprimento destas indicações pode levar à exclusão dos trabalhos”.

As comunicações feitas no congresso têm obrigatoriamente de respeitar o tema da reunião. Os maçons que participam no encontro vão pagar 25 euros.

Eleições em junho

O clima tem andado agitado na maçonaria devido à proximidade das eleições. Fernando Lima, atual grão-mestre do GOL, tenciona recandidatar-se, apurou o i. Lima é grão-mestre desde 2011 e este é o segundo mandato que cumpre na liderança do GOL. O professor universitário Adelino Maltez deverá ser outro dos candidatos às eleições de junho deste ano.

As movimentações dos potenciais candidatos levaram a organização a proibir “quaisquer ações de campanha, qualquer que seja a forma que revistam, antes de 23 de abril de 2017. O “Diário de Notícias” noticiou, em dezembro, que o ex-militante do CDS Adelino Maltez tem promovido encontros com os “irmãos” em várias zonas do país, como Lisboa, Porto ou Coimbra, com o objetivo de lançar a sua candidatura.

Maçonaria cresceu  

O GOL tem atualmente mais de dois mil membros. Numa entrevista ao i, no início de 2015, Fernando Lima garantia que, nos últimos anos, a “maçonaria cresceu bastante – pelo menos aqui no Grande Oriente Lusitano. O número de maçons e de espaços físicos espalhados pelo país aumentou”. O grão- -mestre do GOL explicou, nessa entrevista, que “hoje a maçonaria é uma coisa um bocadinho bipolar: é uma escola de aperfeiçoamento pessoal, mas as pessoas têm de aplicar esses valores na sociedade, transformando-a em algo melhor”.

Grãos-mestres

António Reis
Grão-mestre entre 2005 e 2011

António Reis foi fundador do PS e participou como oficial miliciano na revolução desencadeada no dia 25 de abril de 1974. Foi secretário de Estado da Cultura e deputado na Assembleia da República. António Reis defende que os maçons devem assumir-se, mas “não podem é ser obrigados a isso”. Reis, que foi grão-mestre do Grande Oriente Lusitano entre 2005 e 2011, defende que “a maçonaria tem um papel muito importante no combate a todos os fundamentalismos, na defesa da laicidade, mas também no combate no plano ético do revigoramento moral da sociedade, desde logo no combate à corrupção e pela difusão e defesa dos grandes valores éticos”.

Fernando Lima
Grão-mestre do GOL desde 2011

Fernando Lima é o grão-mestre do Grande Oriente Lusitano desde 2011 e termina o seu segundo mandato este ano. Lima foi presidente da construtora Abrantina e da antiga Engil, e sucedeu a Miguel Cadilhe na presidência da Sociedade Lusa de Negócios (SLN). Em entrevista ao i, o grão-mestre do GOL defendeu que não existe nenhuma razão para que “os maçons sejam obrigados a assumir-se”. Fernando Lima afirmou, numa entrevista feita em 2012, que “ainda há um preconceito muito forte na sociedade portuguesa” contra a maçonaria. Um preconceito, acrescenta o grão-mestre do GOL, que “as pessoas mais esclarecidas já deviam ter ultrapassado”. 

António Arnaut
Grão-mestre entre 2002 e 2005

António Arnaut é conhecido como o pai do Serviço Nacional de Saúde e foi um dos fundadores do Partido Socialista. Foi ministro dos Assuntos Sociais, deputado e dirigente do PS. Arnaut assumiu a sua ligação à maçonaria em 1978, numa entrevista ao jornal “Tempo”, e chegou a grão–mestre do Grande Oriente Lusitano em 2002. Numa entrevista recente ao i, António Arnaut defende que “o maçon que vai para cargos públicos deve, tendencialmente, assumir que é maçon”, embora admita que “alguns não o podem fazer porque ainda há um grande preconceito contra a maçonaria”. 

Eugénio de Oliveira
Grão-mestre entre 1996 e 2002

Eugénio de Oliveira teve um papel ativo na luta contra a ditadura de Salazar. Participou no assalto ao quartel de Beja em 1962. Foi preso e expulso do Exército. Só foi reintegrado, como major, a seguir ao 25 de Abril. Integrou a Comissão de Extinção da PIDE/DGS, em 1974. Eugénio de Oliveira foi iniciado na maçonaria em 1985 e desempenhou o cargo de grão-mestre do GOL durante dois mandatos, entre 1996 e 2002. Morreu, há três anos, com 81 anos de idade. O grão-mestre do GOL, Fernando Lima, diz que Eugénio de Oliveira “será sempre recordado como um grande lutador pela liberdade”.