Tem um eterno ar de brincalhão e adora distribuir charme pelo povo, e no último ano transformou-se numa espécie de Rei que não distingue a plebe da aristocracia, tal é a sua voragem por estar no meio do acontecimento. Segundo um estudo feito pela Cision – empresa sediada em Chicago especializada em serviços de software de pesquisa, monitorização e análise de media – as televisões portuguesas dedicaram-lhe no ano de presidência 1060 horas, o equivalente a 44 dias e três horas. Carregando na tinta: nos últimos 365 dias, quem quisesse acompanhar a vida de Marcelo na televisão teria de ficar os tais 44 dias acordado colado ao ecrã. No que diz respeito às notícias radiofónicas necessitaria de oito dias para escutar todas as referências ao Presidente.
Marcelo Rebelo de Sousa está a conseguir no seu mandato chatear muito mais os seus camaradas de partido do que os da oposição, que neste caso estão no Governo. A esquerda mais radical, que temia que o Presidente fosse a principal força de bloqueio às suas ideias, está maravilhada com a performance de Marcelo. Parece até que o Presidente e o primeiro-ministro foram feitos um para o outro no que à governação diz respeito. É certo que ainda é muito cedo para se dar como garantido que o casamento assinado irá durar a legislatura. Afinal, Marcelo é mais imprevisível do que alguns possam imaginar. E foi por isso que deu uma valente e surpreendente ‘bicada’ no ministro das Finanças a propósito do caso do ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos.
Voltando ao reinado de Marcelo, nos tempos que correm, o da febre das selfies, o Presidente tem batido recordes atrás de recordes de popularidade e, muitas vezes, confunde-se o papel de chefe de Estado com o de primeiro-ministro. Não há assunto que não mereça um comentário do inquilino de Belém e a defesa que tem feito do Governo até deixa o Bloco de Esquerda e o PCP, parceiros da geringonça, boquiabertos. Digamos que com Marcelo não haverá monotonia – na Wikipédia até tem direito a aparecer o nome da ‘companheira’ (Rita Cabral, desde 1980).
Mas consultando o livro biográfico feito pelo jornalista Vítor Matos, lembramo-nos de outra faceta de Marcelo: a religiosa. «Numa das últimas entrevistas, ele disse-me que só se candidatava se sentisse um chamamento divino». Pelos vistos, esse chamamento foi mais forte do que o outro em que afirmou que nem que Jesus descesse à terra seria candidato à liderança do PSD. Como todos sabemos, Jesus não veio à terra e Marcelo chegou a líder do PSD. Veremos que chamamentos divinos surgirão no futuro da coabitação da geringonça com a Presidência…