É uma frase sem dono, que já oscilou entre a pertença a Winston Churchill e a um senador norte-americano do início do século XX. Não interessa exatamente quem disse que os fascistas do futuro – portanto, de hoje – se intitulariam «antifascistas». Interessa que acertou em cheio.
Em Portugal, hoje, temos um Governo de impunidade. O tal «défice mais baixo da história» foi conseguido, segundo Bruxelas, sem qualquer «ajuste estrutural» e, segundo o Conselho de Finanças Públicas, de uma forma «insustentável». O que as duas entidades comprovam com as suas análises é que o défice conseguido por António Costa foi feito à custa de milhões de euros em cativações aos serviços públicos.
Critiquei os Orçamentos do Estado do Executivo liderado por Pedro Passos Coelho porque, desde que o país assinou um memorando impossível de cumprir, os retificativos eram inevitáveis.
A insistência europeia na receita de cortes em tão curto espaço de tempo é uma das razões para a crescente distância dos europeus em relação a uma União que era suposto preservá-los.
O problema da política orçamental do Governo de Costa é que os cortes não são visíveis. O PS pode prometer e dizer que aumentou verbas porque Mário Centeno prontamente cativará todos os excessos que aguentam os socialistas mas não aguentariam as finanças. É um engodo muito feliz, porque resulta, mas muito perigoso na sua eficácia. Se os cortes são feitos à posteriori, fora do que está orçamentado, é impossível as infraestruturas do Estado adaptarem-se ao que não sabem que vão ter, sendo de igual modo impossível cumprir o escrutínio democrático.
É por isso que as críticas de Teodora Cardoso provocaram tamanhas reações no Governo, na esquerda e na presidência. A austeridade invisível esteve em vias de deixar de o ser.
Tornou-se interessante ver como um governo «de esquerda» aumenta impostos, não investe e põe banqueiros a escrever a lei que lhes aplicará, não tendo quebras em sondagem.
A impunidade do dr. Costa é um fenómeno político digno de estudo, na medida em que a colagem da presidência ao seu governo é busca e noção dessa impunidade. As mortes nos hospitais deixam de ser «culpa da austeridade» desde que alguém sorria na televisão 1.060 horas por ano e diga que «está tudo bem».
A esquerda pode em Portugal. Pode falir, cobrar, quebrar acordos, romper tradições, que está impune. A solução de governo com o Bloco de Esquerda e o PCP é a prova maior disso mesmo. Ferro Rodrigues instituir «novas regras» e «novas circunstâncias democráticas» também.
O que a direita necessita de compreender é que a supremacia do seu adversário só terminará quando recusar os termos do seu adversário.
Enquanto a direita achar que tem que ser centrista para ser eleitoral, a esquerda poderá dizer que ela só é democrática se for centrista. Os conservadores pintados de democratas-cristãos e os liberais pintados de sociais-democratas são, sim, o motivo para não se sentir oposição à aliança de esquerda. São a razão para o eleitorado ainda olhar para uma direita que é democrática como sinónimo de Estado Novo ou Estado Social.
Até lá, o país correrá o risco de se tornar num Estado de partido único. A ‘geringonça’.