Donald Trump, ao contrário do que se foi especulando ao longo da campanha, pagou impostos pouco depois da década de 1990, período em que se supôs que o magnata do imobiliário tivesse usado prejuízos de anos anteriores para fugir ao fisco – o próprio sugeriu-o num debate com Hillary Clinton, dizendo que explorar os meandros da lei para não pagar impostos é prova de que é “esperto”.
O presidente norte-americano pagou 38 milhões de dólares em impostos no ano de 2005, sobre um total de rendimentos de 153 milhões de dólares – o que equivale a uma taxa de 24%. Nesse ano, Trump deduziu prejuízos passados no valor de 105 milhões de dólares, o que lhe permitiu poupar vários milhões em pagamentos à autoridade tributária. Se não fosse um imposto alternativo que Trump quer eliminar, a carga tributária nesse ano seria apenas uma sua pequena parte: seis milhões.
Teses derrotadas
Os dados foram comunicados pela Casa Branca minutos antes de serem divulgado em direto na televisão americana. O que se conhece são apenas duas páginas do formulário desse ano, enviadas anonimamente ao jornalista David Cay Johnston, veterano do “New York Times” e vencedor de um Pulitzer, que, assegurou em direto, nada fez para conseguir os documentos – confidenciais, mas, argumenta, de indisputável interesse público.
As páginas derrotam a teoria dos democratas e alguns meios de comunicação, segundo a qual Donald Trump teria usado um grande prejuízo de 916 milhões de dólares, em 1995, de forma a não pagar impostos nos 18 anos seguintes. Os documentos – uma fração da declaração inteira – também nada dizem de possíveis ligações a empresas russas, uma suspeita popular, que explicaria parte das ligações obscuras da sua campanha a Moscovo.
Prova-se, pelo contrário, que o magnata do imobiliário fez o possível para pagar o mínimo de impostos e que o seu plano de reforma tributária só lhe trará benefícios, tal como aos magnatas que, como ele, tiveram de pagar o chamado “imposto mínimo alternativo”, especialmente pensado para grandes empresários que tentam escapar ao fisco com prejuízos de anos anteriores.
Mão forçada
Trump não gostou do facto de a MSNBC lhe ter forçado a mão, obrigando-o a divulgar uma parte das mesmas declarações de impostos que tem recusado publicar desde a campanha, sob o pretexto – errado, segundo especialistas e o próprio IRS – de que não o pode fazer estando sob auditoria.
"Sabe-se que alguém está desesperado por audiências quando está disposto a publicar uma notícia que viola a lei e apresenta uma história sobre duas páginas de uma declaração de impostos com mais de uma década”, lê-se no comunicado da Casa Branca da noite de terça, que parece ignorar que publicar documentos confidenciais justificando-o com interesse público não é delito.
Does anybody really believe that a reporter, who nobody ever heard of, "went to his mailbox" and found my tax returns? @NBCNews FAKE NEWS!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) March 15, 2017
Por sua vez, Donald Trump escreveu no Twitter que não acredita que um “jornalista de que ninguém ouviu falar” obteve os documentos sem os roubar. “FAKE NEWS”, lançou, tudo em maiúsculas.