Surto de legionella. “A culpa não pode morrer solteira”

Autarcas saúdam desfecho da investigação e lembram que o surto afetou muitas famílias, matou e deixou sequelas para a vida em muitos doentes

Os autarcas das duas freguesias mais afetadas pelo surto de Legionella em 2014, Póvoa de Santa Iria/ Forte da Casa e Vialonga, ainda não foram notificados formalmente do despacho de acusação do Ministério Público mas esperam que, agora, se faça justiça. “A culpa não pode morrer solteira”, disse ao i Jorge Ribeiro, presidente da junta de freguesia da Póvoa de Santa Iria/Forte da Casa, que registou o maior número de vítimas. Recorde-se que este surto, cuja origem foi provada serem as torres de arrefecimento da ADP Portugal, afetou 403 pessoas e fez 14 mortes.

“O que se passou foi muito grave e o que dissemos sempre foi que os responsáveis tinham de ser apurados e as vítimas ressarcidas na medida do possível”, diz Jorge Ribeiro, que apela ainda que na sequência do andamento do caso na justiça o governo aperte também as medidas de fiscalização das unidades fabris. “Tivemos nos últimos dias conhecimento de mais um surto de legionella na Maia, o que mostra que isto pode acontecer em qualquer lado”, sublinha Jorge Ribeiro, que defende que o governo deve aproveitar este caso para repor as inspeções obrigatórias. Recorde-se que em 2013, a legislação sobre a qualidade do ar interior tinha sido alterada. Jorge Ribeiro sublinha o envolvimento das freguesias, câmara de Vila Franca e do hospital em todo o processo mas questiona se não seria expectável maior proximidade do governo central nos últimos dois anos em que a investigação se arrastou. "Além das pessoas que morreram, muitas deixaram de trabalhar e outras ficaram com sequelas para o resto da vida".

Também José Gomes, presidente da junta de freguesia de Vialonga, espera que agora se faça justiça. “Até que enfim apareceu um culpado. Espero que traga maior atenção para o processo”, disse ao i o autarca.

Confrontados com o facto do MP só ter conseguido estabelecer a causalidade com 73 vítimas e oito mortes, os autarcas dizem que caberá agora aos serviços jurídicos fazerem o acompanhamento das vítimas no contencioso. Já este ano, algumas das pessoas afetadas pelo surto criaram a AAVL – Associação de apoio às vítimas do surto de legionella de Vila Franca de Xira. Foram anexadas ao inquérito mais de 200 queixas de vítimas apresentadas em nome individual.