A maioria dos portugueses não querem que as consultas médicas no Serviço Nacional de Saúde estejam sujeitas à ditadura de tempos máximos: devem durar aquilo que os médicos, em cada encontro, entenderem ser necessário.
Numa altura em que a Ordem dos Médicos se propõe a estabelecer tempos mínimos de consulta para cada especialidade, contestando o facto de atualmente os atendimentos nos centros de saúde e hospitais públicos serem marcados com intervalos de 15 em 15 minutos, e por vezes até menos, a última edição do Barómetro sobre Saúde do SOL revela que 61% dos inquiridos consideram que os médicos não devem ter um limite de tempo a cumprir.
O estudo de opinião, realizado pela Consulmark2, inquiriu uma amostra representativa de 402 pessoas entre os dias 6 e 10 de março.
Face aos inquéritos de janeiro e março, os resultados apontam para uma rota descendente do índice global de satisfação do Serviço Nacional de Saúde. Verifica-se uma descida dos utentes muito satisfeitos com o SNS, dos 39% em fevereiro para 27% em março.
E a percentagem de utilizadores que se manifestam insatisfeitos subiu um ponto percentual, de 18% para 29%.
O SNS recebe nesta nova edição do barómetro uma pontuação de 14,6 – isto num índice de 0 a 20 construído com base nas respostas dos inquiridos – quando em janeiro e fevereiro tinha nota 15.
Diagnóstico dos tempos de espera
Os índices de utilização do Serviço Nacional de Saúde estão em linha com o verificado nos meses anteriores, mas aumentaram os utentes que dizem ter esperado mais tempo do que antecipavam para ter acesso a consultas, tratamentos ou cirurgias.
A melhor gestão dos tempos de espera tem sido uma das preocupações reiteradas pela tutela, mas aguardam-se novos passos.
O ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes disse esta semana no Parlamento que está a ser ultimada a portaria que vai regular, pela primeira vez, o tempo máximo de espera para acesso a exames e terapêuticas no Serviço Nacional de Saúde, tal como hoje já existe para o acesso a cirurgias.
Tal como o i já tinha avançado, esta portaria vai diminuir também os tempos máximos de resposta para as operações, que hoje podem ir até nove meses. Quando é excedido mais de 75% do tempo, os doentes podem ser operados em hospitais privados. Mas o objetivo da tutela é tornar mais ágil a resposta dentro do próprio SNS, com mais transferências de doentes entre hospitais públicos. No campo do diagnóstico, está prometida para este ano uma novidade: uma clínica pública para fazer exames e análises, que será instalada no parque do Hospital Pulido Valente, em Lisboa.
Dificuldade em aviar medicamentos
O estudo de opinião da Consulmark2 revela ainda que persistem as dificuldades em aviar medicamentos nas farmácias à primeira, um problema crónico de desabastecimento do circuito dos medicamentos que tem sido ligado pelo setor às margens emagrecidas durante o programa de ajustamento, que tornaram mais difícil manter stocks. Por outro lado, o facto de alguns medicamentos terem preços mais baixos em Portugal tem favorecido o fenómeno da ‘exportação paralela’: quando produtos que se destinam a abastecer o mercado nacional são exportados pelos canais de distribuição para o estrangeiro, onde têm margens mais atrativas.
Segundo o barómetro, a percentagem de utentes que teve de ir a outra farmácia comprar o medicamento que procurava subiu de 2% em janeiro para 5% em março.