Contra factos. Acredito que toda a gente mente. A maior parte das vezes essa mentira é inocente. Acredito mesmo que uma dose de mentira é um lubrificante da vida em sociedade. Sendo gente, os políticos também mentem. Talvez mais do que a maioria das pessoas, pois a mentira é uma ferramenta do seu métier de conquistar e assegurar o poder político. Mas Donald Trump a sua equipa elevaram a mentira a um novo patamar pois assenta numa total indiferença face à evidência e à ciência. É como se uma manchete do Jornal do Incrível ( ou News of the World) tivesse o mesmo peso de um artigo na Nature. No fundo, a banalização da ignorância. Nada se sabe, nada se conhece, tudo é opinião, tudo é questionável.
Tim Harford publicou na edição do passado fim-de-semana do Financial Times um interessantíssimo artigo intitulado ‘O problema com os factos’. A tese essencial é que essa promoção deliberada da ignorância não se combate apenas com factos. Os factos são importantes, mas não bastam para ganhar este tipo de batalha. Harford cita a mentira repetida à exaustão pelos Brexiters de que a UE custava ao RU 350 milhões de libras por semana. Mesmo que, no fim, já ninguém acreditasse que esse fosse o verdadeiro valor, a ideia residual de que a UE custava uma «pipa de massa» estava plantada e persistia. Segundo Tim Harford os factos não bastam por três ordens de razões: são complicados, são maçadores e são, muitas vezes, ameaçadores. Nas palavras de Harford, «quando as pessoas procuram a verdade os factos ajudam; mas quando as pessoas raciocinam seletivamente os factos podem ser contraproducentes».
Em que ficamos então? Como combater a mentira e o fomento deliberado da dúvida e da ignorância? Segundo Harford usando os instrumentos de Carl Sagan e David Attenborough usaram para levar «factos» do cosmos e da floresta tropical ao comum dos cidadãos: criando narrativas fascinantes sobre os aspetos fundamentais da nossa civilização. As pessoas esquecem os factos. Não esquecem uma boa estória.