O FBI confirmou esta segunda-feira aos congressistas que está a investigar as interferências do governo russo nas eleições do último ano e a tentar descobrir se essas operações se deram em conluio ou com o conhecimento de funcionários da campanha de Donald Trump. É a primeira vez que o organismo admite a existência de um caso em aberto sobre as ligações do presidente americano ao Kremlin.
O diretor do FBI, James Comey, anunciou-o ao comité dos serviços de espionagem do Congresso, que também pela primeira vez ouviu depoimentos sobre a mão russa nas eleições, um dado que Trump demorou a admitir, apesar do consenso nos serviços americanos – hoje reconhece intermitentemente que o Kremlin desencadeou operações para favorecê-lo, mas afirma que não foram elas que lhe deram a vitória sobre Clinton.
Comey reconhece que é raro anunciar uma investigação em curso, mas afirmou que ele e o Departamento de Justiça entenderam que o devem fazer em caso de “circunstâncias invulgares de interesse público”. “Esta é uma dessas circunstâncias”, disse esta segunda-feira. Ao seu lado estava o chefe da Agência da Segurança Nacional, Michael S. Rogers.
“Porque é uma investigação em curso e é confidencial, não posso dizer mais sobre o que estamos a fazer e sobre quem estamos a investigar a conduta”, lançou Comey, adiantando que o FBI precisa de proteger “a privacidade das pessoas”, garantir que “não dá a ninguém pistas sobre o que estamos a planear” e que “não damos informação aos nossos adversários no estrangeiro sobre o que sabemos ou não sabemos”.
Fora do caso da interferência russa, porém, Comey reconheceu também que as queixas de espionagem de Trump não têm fundamento e que o Departamento de Justiça e o FBI não encontraram indícios de que Barack Obama tivesse ordenado escutas ao edifício do atual presidente em Manhattan. O diretor do FBI já o havia transmitido em privado ao Departamento de Justiça, segundo a imprensa americana.
Nenhuma novidade para os congressistas republicanos do comité de ontem, que reconheceram nas últimas semnas que não existem provas para as alegações de Trump, mas que dizem agora, seguindo a nova linha de argumentação da Casa Branca, que o presidente se queixa de ter sido vigiado num sentido mais lato e que isso não significa necessariamente ter ligações sob escuta.
Os congressistas democratas receberam as declarações de ontem com satisfação e exigiram que Trump retraísse “imediatamente” as acusações contra Obama, como fez, por exemplo, Chuck Schumer, o líder da minoria no Senado. Já Donald Trump partiu para o comité com outra abordagem, dizendo no Twitter que o FBI deve estar acima de tudo concentrado em encontrar as origens das fugas de informação da investigação à sua campanha.
"A verdadeira história é que o Congresso, o FBI e todos os outros deviam estar à procura de quem está a divulgar informações confidenciais", escreveu. E voltou à estaca zero sobre a interferência russa, dizendo que não passa de uma “história inventada” pelos democratas para esconderem o fracasso eleitoral. O diretor do FBI não concordou, mas admitiu que as fugas de informação são um “crime sério”.