O professor João Duque constrói o seu texto troçando do desabafo do ministro das Finanças, Mário Centeno, que declarou ao Financial Times que Portugal não está a ser bem tratado pelas agências de rating (o título da sua crónica é “É uma injustiça, pois é…”). Se a situação macroeconómica portuguesa continua a evoluir razoavelemente, com um crescimento do PIB de 1,4% em 2016, mas acelerando na segunda metade do ano, e um défice orçamental que desceu para 2,1%, porque razão as agências de rating não tomam nota e nos sobem o rating, fazendo assim com que as nossas taxas de juro baixem?
Segundo o Professor João Duque, isso prende-se ao constante aumento da dívida pública, e a uma situação demográfica preocupante. Mas o problema demográfico (cada vez menos trabalhadores a sustentarem mais idosos dependentes) não é um exclusivo português, estendendo.se, no mínimo, a toda a Europa. Quanto à dívida, ela vai sendo reestruturada, gradualmente, entre Portugal e os seus credores.
A meu ver, a não subida do rating de Portugal está antes relacionada com o pensamento de grupo das agências de rating. Isto é, é mais seguro para os analistas que atribuem os ratings darem as mesmas notações que os seus colegas, e além disso, se não destoarem, não têm que dar justificações aos chefes.
Para exemplificar como é difícil ir contra o grupo, vou contar uma pequena história que se passou comigo em meados dos anos 1990. Onde eu trabalhava, em Bruxelas, tínhamos uma escala para avaliar ações que ia de “muito barata” a “muito cara”. Acontece que eu tinha lido num jornal que a indústria cerâmica seria uma das principais beneficiárias da introdução em Portugal do gás natural. Como a Vista Alegre era uma das ações que eu analisava, telefonei para Portugal, e falei com um dos administradores da Vista Alegre, o Dr. Francisco Athayde, que me confirmou o que eu tinha lido: instalar o gás natural era um investimento que se pagava em menos de um ano.
Fiz refletir essa diminuição de custos e consequente aumento de lucros nas estimativas, pelo que a Vista Alegre surgiu como a única ação portuguesa “muito barata”. Imediatamente, a minha analista em chefe, uma belga flamenga com a qual eu tinha boas relações, veio falar comigo dizendo: “Vista Alegre, c’est vraiment Alegre…”, como quem diz, “as tuas estimativas são um bocadinho otimistas, não as queres baixar?”. Mas eu estava seguro da minha análise: não só não baixei as minhas estimativas, como comprei algumas ações da Vista Alegre. Com essas ações, ganhei 125% num ano. Foi dos melhores investimentos que fiz na vida, e ajudou-me a pagar as minhas primeiras férias fora da Europa.
Claro, eu podia ter cedido à pressão e baixado as estimativas de lucros da Vista Alegre. É preciso alguma coragem para se ser desalinhado. Há sempre mais segurança juntando-se aos outros, como sabem muito bem os analistas da Fitch, da Standard and Poor’s, e da Moody’s, que seguem o rating de Portugal.