“Álcool e mulheres”

“Não se pode gastar todo o dinheiro em álcool e mulheres e, de seguida, pedir para ser ajudado”.

O ainda (ainda, pois o seu partido socialista sofreu uma pesada derrota nas eleições legislativas holandesas da passada quarta-feira) presidente do Eurogrupo (grupo dos ministros das finanças da zona euro), o ministro das finanças holandês, Jeroen Dijsselbloem, numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgeeine Zeitung, teve a seguinte tirada: “Os países do Norte têm-se mostrado solidários com os países afetados pela crise. (…). Mas quem pede (solidariedade) também tem obrigações. Não se pode gastar todo o dinheiro em álcool e mulheres e, de seguida, pedir para ser ajudado”.

Portanto, aqui está a causa dos sacrifícios que os portugueses fizeram nos últimos anos e em alguns casos ainda fazem: dinheiro gasto em álcool e mulheres. Esta declaração é mais do que ofensiva: roça a xenofobia.

Curiosamente, surge no mesmo dia em que é divulgado que o Banco Central Europeu pode mais “reformas estruturais” a Portugal. Por “reformas estruturais” leia-se: facilitar os despedimentos (com esta concordo), privatizar (embora já não haja muita coisa para privatizar em Portugal), e ter uma segurança social mais fraca (isto apesar de ela não ser excecionalmente generosa: a pensão de sobrevivência é de pouco mais de 200 euros por mês; é, realmente, de sobrevivência).

Aparentemente, as conclusões do BCE terão provocado a fúria no palácio de Belém, que agora pergunta “O que é que Vítor Constâncio está lá a fazer?”, isto como se, para o bem e para o mal, Constâncio não tivesse a obrigação de ser independente.

Tudo isto acontece no dia em que o banco de investimento francês Natixis concluiu, num estudo, “não existirem justificações para o elevado nível das taxas de juro em Portugal”. Taxas essas que, na dívida do Estado a dez anos, fecharam hoje em 4,21%, contra 0,46% das suas correspondentes alemãs.

E esta diferença justifica-se? Claro que sim! Pois se gastamos o dinheiro todo em álcool e em mulheres…