No mesmo dia em que a Direção Geral da Saúde reconheceu que o fenómeno do uso de drogas para ter sexo, conhecido por chemsex, pode estar ligado ao aumento dos casos de hepatite A em Lisboa, em Espanha foi notícia um passo em frente no combate a este problema. Na Catalunha, o centro comunitário onde se faz a maioria dos testes de VIH entre homens que têm sexo com homens, anunciou a abertura de uma consulta psicológica para apoiar pessoas com este comportamento. “Algumas pessoas começam a acenar e a reconhecer que têm problemas com o chemsex”, disse Ferran Pujol, responsável do centro Bcn Checkpoint, citado pelo "El País".
Nos últimos meses foram várias as chamadas de atenção internacionais para o risco de o chemsex poder levar a um aumento dos casos de VIH e hepatite, como agora parece estar a verificar-se em particular na região de Lisboa. Desde janeiro foram detetados mais de 105 casos de hepatite A, mais do que em todo o ano passado. Segundo a DGS, entre fevereiro de 2016 e fevereiro de 2017, foram reportados três clusters envolvendo 287 casos confirmados de hepatite A em 13 países da UE, incluindo Portugal. A quase totalidade dos casos ocorreu entre HSH, sendo o contacto sexual o principal modo de transmissão.
Drogas libertam… de mais
Em causa está o uso de drogas como metanfetaminas, mefedrona, MDMA ou GHB, que causam uma inibição dos comportamentos sexuais e estão associados a mais comportamentos de risco como não usar o preservativo.
O primeiro aviso da comunidade médica surgiu em 2015, com um artigo publicado no "British Medical Journal" com o título “o que é o chemsex e porque é que isso importa”.
Na altura, um inquérito a 1142 homens que têm sexo com homens em Lambeth e Lewisham revelou que um quinto tinha praticado chemsex nos últimos cinco anos e um décimo nas últimas quatro semanas, sugerindo que se trata de um fenómeno de uma minoria. Porém, alertava-se para a necessidade de acompanhamento destes casos como prioridade de saúde pública, dado serem a “tempestade perfeita” para a transmissão quer do VIH quer dos vírus de hepatite.
A chamada profilaxia de pré-exposição ao vírus da sida – a toma antecipada de antirretrovirais para prevenir a infeção com o VIH (estratégia que ainda não é comparticipada em Portugal mas é seguida por alguns homens que têm sexo com homens) – é encarada como uma forma de reforçar a proteção também nos episódios de chemsex. Porém, a chamada pílula do VIH não evitará outras infeções sexualmente transmissíveis ou a transmissão de hepatite A, cujo principal modo de transmissão é através de ingestão de alimentos ou água contaminados ou por contacto pessoa a pessoa, sendo que a exposição sexual tem sido descrita nomeadamente em surtos no grupo dos em homens que fazem sexo com homens (HSH).
As novas orientações da Direção-Geral da Saúde alertam que não existe tratamento específico para a infeção por hepatite A. “A ingestão de álcool é totalmente desaconselhada e os fármacos com metabolização hepática ou que possam ser hepatotóxicos, devem ser utilizados com precaução”. Deve ser reforçada a higiene e, caso a pessoa não esteja vacinada, deve receber a receber profilaxia pós-exposição o mais precocemente possível e no prazo máximo de duas semanas após a exposição. Assim, se teve comportamentos de risco, deve procurar o médico.
A moda de não usar preservativo
Esta manhã, ouvido pela TSF, o Presidente da Opus Gay, António Serzedelo, alertou para outro comportamento de risco: a prática do sexo sem proteção, na gíria "bareback sex". Tanto no caso do chemsex como do bareback sex, nas redes sociais e sites que promovem encontros existem perfis com estas duas referências. Serzedelo aponta como uma das causas para esta moda o facto de, nos últimos anos, ter havido diferentes promessas de que a cura do VIH estaria para breve, o que fez baixar a guarda. O dirigente deixa também uma sugestão: ser proibido apresentar esta informação nos perfis.