O poder mediático, o poder fáctico que o sucesso no futebol confere a Cristiano Ronaldo traduz-se numa capacidade de influência incomparável ao de qualquer outro português.
Influência que se afirma à escala planetária: uma mensagem, um gesto ou simplesmente uma recomendação do jogador madeirense a alinhar no Real Madrid são certamente mais eficazes na adesão e mobilização das “massas” do que qualquer discurso intelectualizado, selfies ou discurso “de equilíbrio” de Marcelo ou de Guterres.
2.O futebol, na Europa, é a principal força de persuasão e mobilização da sociedade: contemplamos situações altamente reprováveis, exaltamo-nos com banalidades, admitimos que autoridade do Estado (não poucas vezes) seja desafiada – tudo em nome do desporto sacrossanto e das paixões que ele gere.
Os mesmos que criticam a preponderância de Cristiano Ronaldo em Portugal são os mesmos que, regularmente, participam em intermináveis “duelos de palavras” sobre a linha do fora de jogo ou sobre os “méritos oratórios” de Bruno de Carvalho ou Luís Filipe Vieira ou as namoradas sul-americanas de Pinto de Costa (sendo que, de entre estes três temas, o único potencialmente interessante é o último).
Os mesmos que criticam a atribuição do nome de Cristiano Ronaldo ao Aeroporto da Madeira invocando a loucura dos portugueses pelo futebol – são os mesmos que são cronistas regulares de jornais desportivos (que versam sobretudo sobre futebol) onde comentam…sobre futebol (geralmente para defender Pinto da Costa e/ou Ricardo Salgado, a propósito e a despropósito…).
3.Ora, se o futebol é uma fonte de poder que move milhões – e o poder, seja ele qual for, tem horror ao vazio -, afigura-se como uma decisão absolutamente racional que Portugal aproveite a circunstância de ter, entre os seus cidadãos, a principal estrela dessa indústria – ou seja, a figura mais poderosa do poderoso futebol.
Não deverá Portugal orgulhar-se de a figura cimeira do futebol actual (e, na nossa opinião, o melhor jogador de sempre, no novo paradigma do futebolista-atleta) e afirmar-se, utilizando um instrumento de “soft power” diplomático (que também é o futebol) internacionalmente? Claro que sim: Portugal pode e deve associar-se ao nome de Cristiano Ronaldo.
4.Até porque Cristiano personaliza as virtudes do trabalho árduo, da persistência, da mobilidade social e do génio aguçado pelo engenho.
Cristiano Ronaldo mostra que os limites do território onde se nasce não diminuem as potencialidades ilimitadas das pessoas.
Que o indivíduo – pelo trabalho e pela força da vontade – pode ser maior que a região, que o Estado, que a sua geografia – pode ser do tamanho do Planeta. E o céu ser o seu limite: e mesmo assim, pela sua obsessão pelos recordes, Cristiano Ronaldo tentará rasgar o céu e ir mais além.
5.Cristiano Ronaldo já é mais do que um jogador de futebol – efectivamente, é uma inspiração para o sucesso. A demonstração de que os impossíveis são apenas uma fase de transição entre o momento da idealização, do sonho, do pensamento – e o momento da concretização, do feito, das estórias e da História.
Porque Cristiano Ronaldo, afinal de contas, já faz parte da História. Da nossa História: sentimo-nos felizardos por, no meio de tantas desgraças e tristezas, poder coincidir historicamente com o maior jogador de todos os tempos.
6.Tudo dito e ponderado, eis a conclusão lógica que se impõe – o Governo Regional da Madeira acertou na atribuição do nome de Cristiano Ronaldo ao Aeroporto Internacional da Madeira. Na medida em que associa a Madeira ao sucesso, beneficiando do enorme mercado que só Cristiano Ronaldo lhe poderá abrir.
Por outro lado, Cristiano Ronaldo – humana e moralmente – já mostrou que saberá honrar e dignificar a justa homenagem que a Madeira e o povo madeirense lhe prestaram…
7.Na Madeira, Ronaldo é, merecidamente, rei. Ronaldo é Rei-naldo (nunca um nome humorístico assentara tão bem na figura parodiada!).
8.Uma última nota: muitos analistas afirmaram que seria justo homenagear Alberto João Jardim com a atribuição do seu nome ao aeroporto, em vez de o “baptizar” como aeroporto Cristiano Ronaldo. Talvez fosse.
Uma coisa é certa: Alberto João Jardim, por teimosia e incapacidade de discernir o fim do seu ciclo político, terá, em vida, uma gratidão menor do que o papel maior que desempenhou para a afirmação política e económica da Madeira…É pena.