Escreveu esta semana um artigo de opinião que comparava Catarina Martins a Marine Le Pen. Vê o Bloco de Esquerda a alcançar a mesma preponderância eleitoral que a Frente Nacional?
Eu espero que não, nem no Bloco nem em qualquer formato de extrema-direita. Talvez a grande divisão, incluindo nos extremos, já não seja totalmente entre esquerda e direita mas entre sociedades abertas e fechadas; entre moderação e radicalização. A genética do Bloco de Esquerda pertence a algo em que não me revejo, mas a verdade é que a ‘preponderância’ que referiu já existe. É esse o grande pecado desta solução de governo.
Vê uma ‘geringonça’ acontecer na Associação Nacional de Municípios depois das autárquicas deste ano, tendo em conta que seria uma quebra de tradição semelhante à que deu a presidência da Assembleia ao PS?
E não foi só na presidência da Assembleia. No governo também está quem não ganhou. Mas na ANMP não me parece. O Bloco de Esquerda não tem uma presença significativa a nível autárquico.
Escreveu outro artigo, mas já há alguns meses, que considerava os críticos de Passos Coelho como os ‘melhores amigos de António Costa’. Recentemente, Miguel Relvas veio defender primárias no PSD [o mesmo método que destronou António José Seguro no PS] e dizer também que não chega ganhar eleições, que são precisos ‘consensos’. Há um afastamento de ex-passistas em relação a Passos?
Há. Não são muitos, mas há. É uma evidência. Para mim, tratam-se de provas de vida. Vejo também comentários na televisão aos domingos de alguém que foi o maior responsável pela entrega da câmara ao Partido Socialista, do pior resultado de sempre que o PSD teve em Lisboa…
Acha que esse resultado é irrepetível?
Completamente. Eu não gosto de fazer previsões porque não há eleições ganhas ou perdidas à partida, seja qual for a circunstância. Mas que o PSD vai ter um bom resultado em Lisboa, disputando a vitória, não tenho qualquer dúvida. Se será suficiente para vencer, cabe aos eleitores. Eu acredito – e vejo – argumentos mais que relevantes para os convencer em outubro.
Não lhe é, então, ‘indiferente’ quem ganha em Lisboa?
Eu não gosto de fugir a responsabilidades: todos nós temos direito a respostas menos felizes e aquela foi uma delas. Não era o que queria transmitir. O que queria transmitir é que acima de tudo é importante afastar o Partido Socialista, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda da Câmara de Lisboa. Para mim não é, de todo, ‘indiferente’ quem ganhe. Tenho a maior confiança na candidatura que o PSD apresenta em Lisboa.
Lisboa não está já ganha pelo atual presidente da Câmara?
Não, não está. Mesmo que a estatística possa dizer que os presidentes de câmara em funções têm melhores condições para vencer eleições, portanto, a sua reeleição. Nos quarenta anos de poder local, quando o presidente deixa de ser candidato é quando se abre maior oportunidade para mudança de força política. Há exceções e eu creio que Lisboa, este ano, será uma delas, até porque o atual presidente é presidente não-eleito.
Entrevista completa este sábado nas bancas com o SOL