Dezenas de pessoas voltaram a protestar na noite de sábado nas imediações do Congresso do Paraguai, atacado, invadido e incendiado na sexta-feira por uma multidão de centenas de pessoas que protestava contra um voto secreto que pode permitir ao presidente paraguaio concorrer a um segundo mandato e prolongar o seu poder.
A noite de sexta-feira acabou com mais de três dezenas de feridos, duas centenas de detidos e uma morte suspeita, a de Rodrigo Quintana, o líder de uma ala jovem do Partido Liberal Radical Autêntico, abatido a tiro pelos polícias de intervenção que invadiram a sede da formação, noutro local da cidade.
As imagens captadas pela videovigilância mostram Quintana, rodeado de outros militantes da oposição, abatido pelas costas no momento em que a polícia entrou no edifício e o grupo se pôs em fuga pelos corredores. O agente, que parece disparar indiscriminadamente sobre o grupo, pisa depois o corpo tombado do opositor.
O presidente paraguaio tentou responder à contestação no sábado despedindo o seu ministro do Interior e o chefe da Polícia, comunicando, para além disso, que o agente que disparou sobre Quintana estava detido. Apesar disso, Horacio Cartes enfrentou novamente protestos na noite de sábado. Os trabalhos parlamentares estão suspensos.
“Temos que ser muitos e estar decididos”, disse Gina Martínez, advogada, em declarações ao jornal paraguaio “ABC”. “Convido toda a gente a ler e entender o que se está a passar”, prosseguiu, ao lado de algumas dezenas de pessoas. “Isto não é rebeldia, trata-se de defender a lei. Se não a respeitam, também não nos respeitam a nós.”
A tensão no Paraguai coincide com os tumultos políticos venezuelanos, onde o oficialismo de Maduro recuou este fim de semana e devolveu os poderes ao Congresso – controlado pela oposição. Este domingo, em Carpi, no norte de Itália, o Papa Francisco pediu uma resolução pacífica das crises.
“Acompanho com atenção o que se está a suceder na Venezuela e Paraguai”, disse Francisco. “Rezo por esses povos, que me são muito queridos, e convido todos a preserverar, sem descanso, evitando toda a violência, na busca por soluções políticas”, lançou, embora os responsáveis paraguaios insistam na reforma polémica.