Pelo menos 70 pessoas morreram, incluindo 11 menores, e várias centenas ficaram feridas na província de Idlib, na Síria, após um novo raide aéreo levado a cabo, na terça-feira, pela coligação militar que junta forças sírias e russas, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR). Os ativistas garantem que os aviões atacantes lançaram gás tóxico sobre a localidade de Khan Sheikhun – situada naquela província do nordeste da Síria, controlada por grupos opositores a Bashar al-Assad –, provocando sintomas de asfixia e vómitos junto dos civis atingidos.
O grupo de monitorização do conflito sírio, com sede em Londres, não conseguiu identificar, no entanto, a substância utilizada nos bombardeamentos, mas contou com os testemunhos do pessoal médico que se encontra no local, que assegura ter-se tratado de um ataque químico. Numa mensagem publicada no Facebook, os rebeldes que controlam Khan Sheikhun sugerem que a aviação de Damasco e Moscovo lançou gás de cloro e gás sarin sobre a população, algo que não foi possível confirmar oficialmente.
Em declarações à agência RIA, um porta-voz do Ministério da Defesa da Federação Russa negou quaisquer responsabilidades pelo ataque e informou que a aviação russa, para além de não utilizar armas químicas, não efetuou ataques aéreos na região de Idlib na terça-feira.
O governo sírio tem vindo a rejeitar, repetidamente, todas as acusações de utilização de armas químicas contra a população, apesar dos resultados apresentados por uma investigação da Organização para a Proibição das Armas Químicas e das Nações Unidas, que concluiu que as forças de Assad utilizaram gás de cloro em três ocasiões, entre 2014 e 2015. Através de um comunicado, a comissão independente da ONU que averigua as violações de direitos humanos na Síria defendeu que é “imperativo identificar e responsabilizar” os autores de tais ataques que, caso se confirmem, serão tratados como “crimes de guerra”.
Segundo o “El País”, o Conselho de Segurança da ONU vai mesmo reunir-se hoje, de emergência, a pedido do Reino Unido e de França que, à semelhança dos EUA e da Turquia, responsabilizam o exército de Assad pelos ataques. “A utilização de armas químicas constitui uma violação inaceitável da Convenção sobre a Proibição das Armas Químicas e é um novo reflexo da barbárie de que a população síria é vítima há vários anos”, defendeu o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault. Já o seu homólogo britânico, Boris Johnson, concluiu que as mortes em Khan Sheikhun reúnem “todas as características dos ataques de um regime que utiliza repetidamente armas químicas”. Por seu lado, o assessor de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, rotulou os “atos atrozes” do regime sírio como resultado direto da “debilidade” da anterior administração americana.
No passado domingo, russos e soldados de Assad já tinham sido acusados pelos capacetes brancos de terem bombardeado um hospital em Idlib. “Durante a última semana, Idlib tem sido atingida por constantes ataques aéreos e, após o ataque de ontem [domingo], um dos seus principais hospitais foi quase todo destruído e deixou de poder funcionar”, contou à Al-Jazira um membro daquele grupo de socorro que opera em territórios controlados pelos rebeldes.
Médicos e ativistas voltaram a denunciar, também ontem, a ocorrência de bombardeamentos especificamente direcionados a hospitais e locais onde os feridos no conflito recebem tratamento.