“Seja Sério”: André é boa Ventura para o PSD?

1.Afinal, não será em Sintra: o lançamento político oficial de André Ventura será feito em Loures, onde já foi escolhido como o candidato do PSD à respectiva câmara municipal.

Quem é André Ventura? Para os mais distraídos ou distantes do fenómeno futebolístico, será um nome desconhecido; para os mais apaixonados ou simplesmente atentos à actualidade do futebol, será um nome que suscita admiração ou ódio, consoante as cores clubísticas.

2.De facto, não obstante os seus méritos académicos, André Ventura é conhecido hoje principalmente (ou mesmo exclusivamente) pela sua defesa acirrada do Glorioso (o que é um privilégio). É verdade que mantém uma coluna de opinião criminal e política no “Correio da Manhã”: porém, esta não atinge a visibilidade e o impacto mediático que as suas intervenções pró-Benfica –  anti-Sporting e anti-Porto, algumas vezes – alcançam.

Note-se que André Ventura é, de entre os vários comentadores de futebol, o que gera mais ódio e indignação junto das estruturas oficiais dos clubes rivais do Glorioso. Basta pensar que o Porto Canal (canal televisivo detido pelo Futebol Clube do Porto) dedica um programa semanal, praticamente na íntegra, a atacar André Ventura.

3.Esta resposta sempre tão abrasiva quanto célere das estruturas oficiais do FC do Porto justifica-se, para além dos méritos argumentativos de André Ventura, pela ligação de extrema proximidade do comentador com o Presidente do Glorioso, Luís Filipe Vieira.

Na verdade, André Ventura entrevistou durante largas horas o Presidente dos encarnados para efeitos de publicação da sua biografia oficial – a qual deveria ter sido lançada no mercado no final do ano transacto, mas o autor e a editora resolveram adiar (para depois do tetra?) em virtude do período eleitoral que se viveu no Benfica. Recorde-se, ainda, que André Ventura foi director de campanha de Luís Filipe Vieira.

4.E politicamente? André Ventura – o que é uma surpresa para a grande maioria dos portugueses – é igualmente activo na política partidária. Para além das aulas, das lições publicadas (melhor, porque mais original e claro, nas lições de Direito Fiscal do que propriamente nas lições de Direito Penal, as quais já prometeu desenvolver e actualizar brevemente), do Benfica – André Ventura é conselheiro nacional do PSD, eleito no último congresso.

Um dado muito curioso: André Ventura foi eleito na lista ao Conselho Nacional apresentada por Sérgio Azevedo – deputado do PSD e colunista no melhor jornal português que é o “i”.

5.Sérgio Azevedo, como é público e notório, foi um “passista” de primeira linha: contudo, nos últimos tempos, Azevedo tem-se distanciado subtilmente da liderança do partido, começando a criar um espaço próprio.

O que significa que, face às polémicas envolvendo Maria Luís Albuquerque e ao desgaste de figuras como Teresa Leal Coelho, Sérgio Azevedo pode bem surgir como o herdeiro natural do “passismo” revigorado.

O deputado por Lisboa – com o seu melhor amigo e aliado, André Ventura – pode dar o  (necessário) “refresh” ao passismo em caso de saída de cena de Pedro Passos Coelho.

6.Em suma, dois nomes a ter em conta no futuro do PSD: Sérgio Azevedo e André Ventura. Que em termos de criatividade política, substância e até coragem, batem aos pontos muitos dos putativos “jovens” que meteram na cabeça que têm o direito natural a liderar o centro-direita…

7.Derradeira questão: poderá André Ventura ganhar Loures? Evidentemente que não: mas também não lhe é exigível a vitória.

Bastará um lugar honroso – reforçar a votação do PSD no referido concelho.

8.O objectivo da sua candidatura é claro: começar a dar visibilidade a André Ventura como político e quadro do PSD e familiarizá-lo com o aparelho do PSD, já a pensar no futuro. Aliás, André Ventura tem igualmente preparado um livro sobre política, escrito em co-autoria com Rui Gomes da Silva (cuja publicação foi adiada sine die pela Alethêia de Zita Seabra…).

9.Resta-nos concluir com a frase emblemática de André Ventura no seu programa com Paulo Andrade: seja sério, André, seja sério, na sua candidatura!

E há que interromper por uns tempos o comentário desportivo para que não haja sobreposição ou confusão de esferas entre o futebol e candidaturas políticas…