Isaltino Morais, o regresso

Isaltino Morais veio finalmente confirmar o que todos já sabiam. Vai correr para um lugar que ocupou por mais de 20 anos em Oeiras

A decisão de se candidatar a Oeiras foi amadurecida ao longo de bastante tempo, mas só agora anunciada. Isaltino só avançou depois de saber quem ia a jogo, em particular do lado do PSD. Porquê? «Porque não tenho dúvidas de que a maioria do eleitorado de Oeiras sempre se reviu muito em políticas social-democratas. Isto apesar de hoje ser certo de que o PSD é tudo menos social-democrata». E justifica: «Todas as políticas de Governo que o PSD desenvolveu foram mais no sentido do neoliberalismo do que da social-democracia. Enquanto presidente, ao longo de mais de 20 anos, sempre desenvolvi políticas sociais fortes em Oeiras. Tive de percecionar o que os oeirenses sentem. E tudo isto levou à minha candidatura».

Dessa observação resulta, para Isaltino Morais, que «as pessoas estão preocupadas pela diluição da identidade do município ao longo dos últimos anos [sob a gestão de Paulo Vistas que se recandidata como independente],pela ausência de perspectivas futuras».

«Ao longo deste tempo foi germinando em mim a ideia de voltar à câmara municipal, sobretudo se não aparecessem candidatos com uma visão, não a quatro, mas a 20 anos». E para aquele que chegou a ser apontado como o «autarca modelo do PSD», nem a atual gestão de Paulo Vistas, nem o candidato já indicado pelo PSD Oeiras – Ângelo Pereira – têm esse perfil de pensar a médio e longo prazo. Sobre Vistas afirma mesmo que «esperava mais. Quando se trabalha bem condiciona-se o futuro, mas quando se trabalha mal isso também acontece. O atual [preidente]teve oportunidade de levar por diante, mas é preciso antecipar o futuro».

Sobre Ângelo Pereira diz que não tem nada contra, mas «esperava um PSD mais ambicioso, uma aposta para ganhar, e não para daqui a quatro ou oito anos».

Sobre a atualidade autárquica do PSD critica a espera por março para avançar para Lisboa. «Isso significa que o PSD desistiu das eleições autárquicas e que Medina será o próximo presidente. O PSD está a discutir o segundo ou o terceiro lugar», diz. De volta à sua candidatura assume: «É um cargo executivo que exige grande disponibilidade e muito  exigente. Avanço como se fosse a primeira vez que me candidatasse. Quero um programa inovador. Não de mera continuidade. Quero devolver o orgulho a Oeiras. Com uma estratégia de desenvolvimento a 15 ou 20 anos. E isto, independentemente de vir a fazer um, dois ou três mandatos. Porque o que importa é ter esta visão de médio e longo prazo».

Os estudos de opinião apontam para a vitória de Isaltino. E o candidato, acredita nesse final? «Se pensasse que não ganhava, nem me candidatava».

Convencer o eleitorado, oito anos depois da última vitória, já como independente, em 2009, não parece abalar as convicções de Isaltino. «Vou fazer um esforço na campanha para dar a conhecer aos oeirenses o que vou fazer».

E aposta no seu passado: «Tenho uma vantagem – a credibilidade perante os eleitores. Sabem que o que prometo cumpro. É um passado de trabalho e de desenvolvimento do concelho».

Quer concretizar? «Por exemplo, como presidente prometi fazer as melhores escolas do país e cumpri. Agora, embora o programa eleitoral não esteja desenhado, quero fazer em Oeiras as melhores escolas do país, não em termos físicos, pois essas já existem, mas as escolas com os melhores alunos. Há que apostar nos pais, nos professores e nos alunos».

Lembra ainda o programa de habitação social que desenvolvido no concelho debaixo da sua gestão, designadamente o realojamento de cinco mil famílias «que viviam, em habitações precárias».

E aqui veio-lhe à memória a situação por que passou quando cumpriu pena de prisão na Carregueira por fraude fiscal e branqueamento de capitais. «Devo dizer que depois de tudo o que passei – embora sempre tenha tido grande tolerância e compreensão para com os mais desfavorecidas – hoje sou uma pessoa ainda mais tolerante. Sinto-me melhor preparado para compreender os problemas dos mais fracos».

PSD teve deriva à direita

Ser um dos quatro presidentes ou ex-presidentes de câmara a concorrer para Oeiras é um desafio. «Nos municípios lida-se mais com os problemas diretos das pessoas.  Por isso, se ganhar as eleições, com ou sem maioria, a presença na vereação de antigos presidentes só pode ser positiva. São pessoas com experiência de gestão e sabem o que é ser presidente». Joaquim Raposo, (ex-Amadora, PS),  Daniel Branco (ex-Vila Franca de Xira, CDU) e Paulo Vistas vão concorrer a Oeiras.

Isaltino Morais assegura que se for eleito presidente é sua vontade «distribuir pelouros por todos, mas mesmo todos. Quem quiser aceita ou recusa».

Antigo dirigente, Isaltino saiu, mas não rejeita voltar um dia a «um PSD social-democrata».

«Não posso dizer nem que sim nem que não. Sou um social-democrata. Mas não me identifico com esta direcção do PSD». E lembra: «Há uns anos atrás, nos anos 90, identificava-me muito com o atual presidente, Pedro Passos Coelho. Era então um social-democrata puro e duro. Tem-se a sensação que depois de ter passado pela faculdade deram-lhe um chip qualquer que o virou para o neoliberalismo. Aquela submissão à troika, aquela imagem de as pessoas andarem a viver acima das suas possibilidades, foi um discurso muito infeliz. Acabou por criar uma depressão psicológica nos portugueses, de grande medo no futuro, a que se contrapõe hoje a atitude do primeiro-ministro e do Presidente da República de descomprimirem muito a sociedade».

As críticas não param: «Penso que o PSD teve de facto uma deriva à direita. Não sei se não se posicionou mais à direita ainda do que o próprio CDS».

Recorda militantes como Rui Rio que voltaram a falar de social-democracia, mas assegura: «Não está nos meus horizontes voltar».

A passagem pela prisão pode ser um estigma para os eleitores? «Para mim é uma questão fechada. Sempre clamei a minha inocência até ao limite. Não na rua, mas nos tribunais, lutando até ao fim. Sempre disse que era inocente. Não cometi qualquer crime. Isso mesmo está no acórdão. Injustamente fui condenado, cumpri prisão. Cumpri a minha parte. Assim outros cumprissem», lembra, sem entrar em pormenores.

Sobre o atual Governo não hesita: «O responsável número um pela geringonça chama-se Pedro Passos Coelho. E o governo do PSD e do CDS». Porquê? Novamente a questão da mensagem. «O que foi passado pelo PSD, pela direcção do partido, pelo Governo de Passos Coelho foi de censura aos portugueses, de lhes mostrar que eles é que eram os maus, os malandros que viveram acima das sua possibilidades e que causaram o caos e a bancarrota. Bom, como se está a ver não foram os portugueses. Terá sido a banca, terá sido o próprio Governo, mas não foram os portugueses que não viviam acima das suas possibilidades».