1.Foi mais um momento lamentável ocorrido na nossa Assembleia da República: o líder parlamentar do Partido Comunista justificou a decisão do seu partido de votar contra a resolução de condenação da utilização de armas químicas pelo regime de Bashar Al-Assad contra o seu próprio povo – ou seja, o PCP coloca-se ao lado de ditadores sanguinários, terroristas de estado e é moralmente conivente com a morte de mulheres e crianças sírias inocentes.
2.Para o PCP é simples: se as vítimas forem seus adversários políticos, os crimes contra a humanidade são justificados; se as vítimas forem oriundos de seus aliados políticos, os mesmos actos passam a ser crimes hediondos e objecto da mais veemente condenação.
Tem sido assim ao longo da história – será sempre assim até ao fim da História (pelo menos, da nossa História): a dignidade da pessoa humana, como princípio civilizacional não contingente na geografia, é algo desconhecido para os comunistas portugueses.
3.Preferem defender a ortodoxia das “teses do materialismo dialéctico”, mesmo que tal represente a apologia mais primitiva da violência, da morte, da pobreza e da miséria.
Com o mesmo afinco com que defenderam outrora a União Soviética e a miséria humana que representou, os comunistas portugueses defendem agora os ditadores que, à custa de milhares de vidas humanas, mantêm vivo o resquício histórico bárbaro que é a ideologia comunista.
4.Perguntará o leitor mais cauto: “então, mas se o PCP sempre foi assim porque releva o comentador mais esta postura censurável dos comunistas portugueses?”. A resposta é deveras clara: é que, desta feita, a atitude do PCP é duplamente censurável.
Censurável pelo seu conteúdo. Censurável, pela circunstância de actualmente o PCP não se limitar à sua função de partido da oposição inconsequente, apesar de barulhenta – antes, hoje o PCP integra o Governo de facto.
O PCP não contesta o poder – o PCP, hoje, é poder.
5.E para Portugal (para a larguíssima maioria dos portugueses!) é um embaraço ter como realidade política que suporta o actual Governo, um partido que não tem qualquer pejo em se alinhar com Bashar Al-Assad, incapaz de condenar a utilização de armas químicas para matar cidadãos inocentes e vulneráveis.
O PCP rejeita a Aliança da justiça e da humanidade; o PCP prefere a Santa Aliança dos bárbaros.
O que é incompreensível é que esta decisão política do PCP tenha passado na nossa comunicação social como se não tivesse qualquer relevância, como que não comportasse qualquer grau de censura política (já não dizemos moral – não exigimos tanto face à triste conjuntura que vivemos…).
6.No entanto, este (lamentável! – não nos cansamos de o adjectivar negativamente) episódio tem a virtualidade de fazer com que o PCP, mais uma vez, saia do armário em que tem vivido para fins eleitorais.
Nuns dias, dizem que são os defensores dos “oprimidos”, dos “ descamisados”, das “vítimas do capitalismo selvagem”, do “Estado que retira direitos aos cidadãos”, dos “desalojados”, dos “famélicos da terra” – noutros dias (que são a maioria) o PCP aplaude a miséria extrema e desumana do regime lunático da Coreia do Norte, incita ao surgimento de novos “famélicos” da terra, do mar, do céu e de todos os tipos e dá cobertura ao Governo de António Costa, mesmo que cometa as maiores tropelias para os trabalhadores portugueses e para as famílias portugueses.
Tudo isto porquê? Porque o PCP não quer saber de Portugal, tão pouco quer saber dos portugueses – o PCP quer saber dos seus funcionários, do seu “poderzinho” nas empresas públicas, dos seus “pequenos grandes tiranos” por esse mundo fora.
Aí onde houver miséria e morte – muito provavelmente haverá um amigo e protegido do PCP.
7.Por todas as razões atrás explicitadas, convém revelar, enfim, o significado da sigla PCP, erroneamente entendida como “Partido Comunista Português”. Se é verdade que, na teoria, é esta a sua designação – na prática, fruto do posicionamento político diário dos comunistas portugueses, “PCP” evoluiu para “ Partido Cínico Português”.
Haverá maior cinismo do que criticar António Costa e o seu Governo por manter as políticas “neo-capitalistas” em comícios do partido e em reuniões sindicais – e depois aguentar o mesmo Governo na Assembleia da República, quase pedindo desculpa ao PS pelo atrevimento de o criticar? Poder, a quanto obrigas!
O PCP deveria era pedir desculpa a todos os portugueses pela vergonha que é ter um partido, que é a muleta do PS de Costa, a acarinhar Bashar Al-Assad.
O PCP deveria era pedir desculpa à Humanidade por ser cúmplice ideológico das maiores atrocidades que já se cometeram – e se cometem – na nossa história colectiva!
8.Quando for às urnas, caríssima leitora e caríssimo leitor, pense duas, três, quatro, muitas vezes antes de confiar o seu voto na foice e no martelo: PCP é Partido Cínico Português. E de cinismo político, estamos nós (todos, sobretudo os trabalhadores portugueses que compreendem muito bem que não podem contar com o PCP!) fartíssimos…
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