O primeiro deslize é a sua explicação do negócio: “o Estado dá o banco a custo zero ao acionista privado que, depois, irá injetar dinheiro num banco que já é seu.” Ora isto é distorcer a verdade, pois o Estado só vende 75% do capital do Novo Banco. Os restantes 25% ficam no fundo de resolução, que assim beneficiará do dinheiro que o comprador, o fundo americano Lone Star, coloca no Novo Banco. É um pormenor que mostra algum distanciamento da verdade e do rigor, que realmente não lhe ficam bem.
O segundo deslize é pior, porque tem laivos de malícia. Afirmou Mariana Mortágua que: “Devido a esta solução para o Novo Banco, somos a chacota da Europa.” Com esta declaração, Mariana Mortágua está a aproveitar-se cinicamente dos complexos de inferioridade que muitos portugueses têm, por o seu poder de compra ser inferior ao dos cidadãos dos restantes países da Europa ocidental. Não é por acaso que José Mourinho e Cristiano Ronaldo são idolatrados: portugueses, são tão bons como os melhores, podendo mesmo ir ao ponto de ser arrogantes, como é o caso de Mourinho. São um excelente antídoto para os complexos de inferioridade que muitos portugueses têm, em especial nas comunidades de imigrantes, que tradicionalmente saem do país para executar os trabalhos mais humildes, ficando por isso inferiorizados relativamente aos cidadãos dos países de acolhimento. Chega-se ao ponto, nas comunidades de pescadores portugueses emigrados no país basco espanhol, de não se saber que o português é uma língua mais falada no mundo que o basco.
Quando o Bloco de Esquerda apareceu, apropriaram-se de uma certa dignidade de princípios, de não fazerem política como os partidos já estabelecidos. Mas quando eu oiço Mariana Mortágua, de quem Francisco Louçã diz que “dará uma excelente ministra das finanças”, afirmar que somos a chacota da Europa, fico esclarecido. Também no Bloco, os fins justificam os meios.