Esse objetivo, de obter excedentes orçamentais, e com eles poder ir amortizando a dívida pública, deve suscitar desconfiança nos parceiros do governo de extrema-esquerda, sempre prontos a mais uma reivindicação para aumentar a despesa pública. Mas, como se prevê que a economia continue a crescer até, pelo menos, 2021 (já é uma previsão com elevado grau de incerteza, a quatro anos de distância), faz todo o sentido acumular excedentes nos anos bons, para ter folga para gastar nos anos de fraco crescimento económico, e desta forma estimular a economia nesses anos piores, através do consumo e do investimento públicos. Mais do que acertar nos números exatos da previsão, a estratégia é que conta. E esta baseia-se numa receita de manual. Nada tem de original, o que é preciso é uma tremenda vontade política para a executar, porque há sempre grupos de interesse a gritaram por dinheiro do Estado.
Centeno, doutorado por Harvard, tem um estilo de atuação “no-nonsense” (sem disparates), e acho que foi o primeiro a perceber que, para conquistar e se manter no poder, o PS tem de ser o partido da responsabilidade orçamental. Os portugueses estão fartos de défices orçamentais, de dívida pública, de receitas extraordinárias e irrepetíveis, etc. O país quer, coletivamente, viver na medida das suas possibilidades. Centeno entendeu isso. Já tem provas dadas como um bom ministro das finanças, como um tecnocrata. Deve estar agora a tomar o gosto pela política.