Há pouco mais de um ano, começava a desenhar-se o que seria o futuro da TAP, depois de os acionistas privados terem chegado a acordo com o Governo para dividir a participação no capital social da empresa. Entre vários anúncios, houve surpresas. Uma delas foi a entrada do grupo chinês HNA no capital da transportadora aérea.
Apesar de não ter sido anunciado pelos intervenientes, logo no início, que esta participação fazia parte do acordo, constava do entendimento conseguido entre Executivo e consórcio Atlantic Gateway, formado por Humberto Pedrosa e Neeleman. Numa das cláusulas era então assumido este investimento do grupo e ficava em cima da mesa a possibilidade de, num prazo de cinco anos, a HNA substituir a companhia brasileira Azul no capital da Atlantic Gateway. Para isso apenas é necessário que o Governo português autorize a operação. Nesta altura, as relações da HNA com David Neeleman nos negócios eram recentes.
Em novembro de 2015, o grupo tornou-se o maior acionista individual da Azul, a companhia aérea brasileira do também acionista da TAP. O investimento de 450 milhões de dólares na transportadora, por uma participação de 23,7%, permitiu indicar um membro ao conselho de administração.
Mas os interesses e investimentos deste grupo, que passou a ser mais falado em Portugal pela participação que passou a ter na TAP, não se ficam por aqui. Muito pelo contrário. Os investimentos têm vindo a multiplicar-se e, de acordo com as contas feitas pelo Financial Times, em apenas dois anos, o grupo já fez compras num valor que supera os 40 mil milhões de dólares, o que equivale a cerca de 38 mil milhões de euros.
Dúzia de negócios só em 2017
Em dois anos, os chineses da HNA compraram um pouco de tudo. Investiram na TAP, através da Azul, onde também fizeram check in. Compraram um negócio de logística em Singapura. O investimento feito com a CWT, dedicada a serviços de logística e armazéns, foi de 945 milhões de euros.
A verdade é que o grupo tem vindo a reforçar a aposta em várias áreas e a prova disso é o facto de, só nos primeiros meses deste ano, os chineses da HNA já terem estado ligados a uma dúzia de fusões e novas aquisições. No cesto de compras há de tudo: uma tentativa de comprar o London City Airport, o aeroporto mais central de Londres; a compra de 3% do Deutsche Bank; e negociações para comprar uma posição na empresa que detém a Forbes.
De acordo com fontes ligadas ao processo, o negócio pode mesmo envolver a compra da totalidade das ações detidas na publicação à Integrated Whale Media Investments (IWI), que detém 95% da Forbes Media.
Mas não foram apenas estes grandes negócios que chamaram a atenção e que trouxeram o grupo às páginas dos jornais em todo o mundo. Há pouco mais de mês e meio, o grupo chinês HNA estava a negociar a compra de um arranha-céus em Nova Iorque, nos EUA, um negócio de 2,21 mil milhões de euros. De acordo com a imprensa norte-americana, o valor em questão tem tudo para ser um dos mais elevados de sempre no respeita à compra de um edifício em Manhattan, ainda que se fale de 158 mil metros quadrados.
Mas afinal que grupo é este?
O grupo HNA foi criado em 1993 como uma companhia regional da China, mas bastaram duas décadas para se transformar num conglomerado gigante. A companhia tem hoje negócios na aviação, na indústria e no turismo, entre outros. Existem supermercados, bancos e agências de turismo controlados por este grupo chinês, que tem mais de 110 mil funcionários espalhados um pouco por todo o mundo. Contas de 2014 mostram que a empresa conseguiu somar lucros na ordem dos 206 milhões de dólares, o que significa que, em apenas um ano, conseguiram aumentar os lucros em mais 26%.
Em 2015, a Hainan Airlines já era a maior transportadora aérea privada da China e a quarta maior em dimensão, com uma frota de 561 aviões. A companhia operava, nesta altura, mais de 630 rotas nacionais e internacionais para cerca de 210 cidades em todo o mundo. Também a hotelaria é uma das grandes apostas deste grupo.
No entanto, este não é o único grupo chinês a apostar em força em vários países e nas mais diversas áreas. No caso português, a energia, a banca e a saúde têm estado na lista de preferências dos chineses, mas não se limitam a estes mercados. A Fosun, por exemplo, começou no mercado segurador, mas rapidamente multiplicou a linha de áreas de investimento.