A concelhia do PSD de Lisboa está à beira da rutura.
O presidente do órgão local, Mauro Xavier, demite-se antes de terminar o seu mandato – que, por obrigação estatutária, seria sempre o último. Xavier já o confirmou nas redes sociais e é Rodrigo Gonçalves que assume a presidência interinamente.
Ao que o i apurou, Xavier não está apenas substancialmente descontente com a postura fechada que Teresa Leal Coelho, a candidata do partido à capital, tem mantido em relação à concelhia, como também tem sido pressionado pela multinacional norte-americana que o emprega, a Microsoft, para abandonar a política devido ao destaque mediático – e muitas vezes polémico – em seu torno ao longo do processo autárquico decorrente.
Na última semana, tendo em conta este cenário, Mauro Xavier tem consultado o seu círculo mais próximo de modo a reunir algum consenso no que diz respeito ao timing e às consequências da sua saída, na medida em que as estruturas locais se encontram em ano eleitoral e a sua sucessão não será, previsivelmente, consensual entre as hostes laranja.
Esta noite há reunião da comissão política do PSD/Lisboa, chefiada por Mauro Xavier, e é aí que a saída deverá consumar-se, não sendo a primeira vez que a hipótese é ponderada pelo próprio desde que o ambiente interno se deteriorou. Ao i, Xavier diz que “não tem planos previstos a curto prazo”.
As notícias protagonizadas por Xavier, quadro de destaque no panorama europeu da multinacional, têm causado alguma apreensão, em especial desde uma quezília com Carlos Carreiras, o coordenador nacional autárquico do PSD.
Recentemente, Carreiras afirmara não “reconhecer credibilidade” ao presidente do PSD/Lisboa e Xavier prontamente ripostou com a exigência de um pedido de desculpas, dizendo que Carlos Carreiras “tem tido bastantes momentos assim”.
O vice-presidente de Xavier na concelhia, Rodrigo Gonçalves, reagiu mais bruscamente, acusando Carlos Carreiras de ser “um dirigente de fação que luta pela manutenção do statu quo”. A “fação” de Carreiras, é sabido, corresponde a lealdade máxima a Passos Coelho. De seguida, Pedro Duarte, um crítico de Passos (coincidentemente, também quadro da Microsoft), aplaudiu em público o ‘puxão de orelhas’ ao coordenador autárquico. Era a outra “fação” a reagir.
Será um Mac melhor que um Microsoft? O divórcio de Mauro Xavier da direção de Pedro Passos Coelho estava, então, consumado. Depois de Xavier garantir em entrevista que não voltaria a votar em Passos e acusar o presidente do PSD de “não respeitar os órgãos do partido”, Teresa Leal Coelho recusou reunir-se com a concelhia do PSD/Lisboa.
A candidata social-democrata, próxima de Passos Coelho e sua aposta pessoal, tem recusado encetar qualquer tipo de diálogo com Mauro Xavier. O elo de comunicação predileto com a proposta de programa da concelhia é José Eduardo Martins, com quem Leal Coelho conversa frequentemente.
Críticos de Passos dão a cara nas autárquicas Embora Martins, nunca um passista, tenha sido convidado para coordenador de programa sem aviso prévio a Passos Coelho, o antigo secretário de Estado de Durão Barroso tem demonstrado uma postura construtiva no projeto para Lisboa – algo que gera satisfação na sede nacional do partido. Será, nesse sentido, também José Eduardo Martins a encabeçar a lista dos sociais-democratas à assembleia municipal lisboeta.
Martins não é caso único como crítico ocasional da direção de Passos que vem dar a cara pelo partido no processo autárquico. Pedro Duarte, já mencionado, também vem ganhando presença na candidatura do PSD à Câmara Municipal do Porto, com o independente Álvaro Almeida.
Perante a dinâmica de Teresa Leal Coelho com José Eduardo Martins e o silêncio entre a candidata e Mauro Xavier, o debate sobre as listas a apresentar às urnas permanece distante da concelhia. Hoje, esse é outro dos principais focos de tensão.