Há caça ao cacique no PSD-lisboa

Passos deu o ‘OK’ para ‘higienizar’ o PSD-Lisboa. Miguel Pinto Luz não tenciona abandonar a distrital sem ver o feito consumado. A concelhia é para limpar de vez. E já há reação

A saga da concelhia rebelde começa a chegar ao fim. Depois de o presidente do PSD-Lisboa, Mauro Xavier, ter apresentado a demissão esta quinta-feira, a direção social-democrata não parece ver grande futuro em Rodrigo Gonçalves como líder interino.

Miguel Pinto Luz, presidente da distrital, acordou com Pedro Passos Coelho. Sendo o seu último mandato como dirigente, não deixará Lisboa sem limpar os ativos mais controversos do partido na capital. A família Gonçalves é a inevitável visada. Nem o pai, Daniel, será candidato à junta de freguesia das Avenidas Novas, nem o já referido filho, Rodrigo, integrará as listas como deputado à Assembleia Municipal.

Os processos judiciais em que Rodrigo Gonçalves se viu envolvido, o facto de ter desafiado Passos Coelho a candidatar-se à Câmara de Lisboa depois de não se conseguir convencer Santana Lopes e as «adjudicações aos amigos» expostas por Vítor Matos no Observador, levam o PSD a preparar-se para deixar cair um dos seus militantes mais polémicos. «Ele nunca pensou que houvesse coragem para isto», admite fonte próxima do processo ao SOL, «mas era previsível depois do disparate do jantar em que desafiou Passos».

Já prevendo o seu destino, Rodrigo Gonçalves ainda deixou passar a lista de candidatos proposta pela direção do partido. «Lamento que Teresa Leal Coelho e Pedro Passos Coelho tenham excluído nomes de grande qualidade indicados pelo Núcleo Central do partido, seguindo os estatutos. Não percebi os critérios de exclusão, uma vez que alguns deles são nomes que têm eventualmente até mais currículo do que a candidata à câmara de Lisboa».

«Apesar de não perceber os critérios para a exclusão» e «no propósito de trabalhar para que o PSD lute por um bom resultado em Lisboa» votou «favoravelmente a proposta com os 24 nomes» e apelou para que os restantes dirigentes da concelhia seguissem a mesma orientação para «não contribuir para a divisão do PSD Lisboa». Gonçalves, sabe o SOL, ainda tentou fazer um acordo à última da hora, aprovando as indicações alheias e discutindo os seus nomes mais tarde, mas sem qualquer sucesso.

Gonçalves sucedeu esta semana a Mauro Xavier depois deste último abandonar a concelhia devido a pressões profissionais – na medida em que a multinacional norte-americana para que trabalha via com preocupação a sua exposição mediática como quadro – e a complicações políticas, pois Teresa Leal Coelho, a candidata do partido à Câmara de Lisboa, recusa reunir-se com a concelhia liderada pelo homem que afirmou que não voltaria a votar em Passos, seu próximo.

Xavier, ainda nesse sentido, nunca quis uma das vice-presidentes do partido como candidata ao município – coisa que Leal Coelho inevitavelmente é.

Em carta aberta aos militantes do PSD-Lisboa o presidente demissionário garantiu que a sua «divergência em relação à atual liderança», segundo este, nada condicionou o seu «empenho e vontade de vencer Lisboa». «Temos o dever e a responsabilidade histórica de vencer estas eleições», realçou Xavier, que foi algo criticado no início do processo autárquico por falta de oposição ao executivo camarário do PS e de Fernando Medina.

Se a saída de Xavier for o início de um furacão, a borboleta que bateu as asas antes da tempestade não se escondeu. «Quero dar aqui público testemunho do modo irrepreensível com que o Mauro Xavier lidou comigo, nestes anos de Presidente da Concelhia de Lisboa. Outras ou outros terão avaliações não coincidentes. Por mim, só posso dizer muito bem. Continuar a sua meritória carreira profissional permitir-lhe-á alargar ainda mais os seus horizontes, já bem mais amplos do que o que se encontra por todo o lado na vida partidária», escreveu Pedro Santana Lopes nas redes sociais.    

Com a saída de Mauro Xavier e alienação da concelhia (Gonçalves não tem maioria no órgão e o processo está com a distrital de Pinto Luz), o elo de comunicação predileto com a proposta de programa para Lisboa é José Eduardo Martins (JEM), com quem Leal Coelho tem conversado. Martins, um crítico do passismo, foi convidado por Xavier à revelia de Passos Coelho e o destino das propostas que reuniu é hoje mais incerto.

Também nas redes sociais, JEM reagiu à saída do líder do PSD-Lisboa: «Há anos que ninguém no PSD me pedia uma linha ou uma opinião. Obrigado pela oportunidade. Terá sido a primeira de muitas». Uma despedida com sabor a ‘até já’, portanto.

A reação ou o regresso do criador?

A ascensão de Rodrigo Gonçalves no aparelho lisboeta do PSD esteve diretamente relacionada com o percurso de António Preto, ex-deputado, apoiante de Manuela Ferreira Leite e que chegou a ser líder distrital até 2006. Preto estava presente no conhecido jantar/comício em que Gonçalves pôs a São Caetano à Lapa à beira de um ataque de nervos, desafiando Passos Coelho a ir ele próprio à Câmara de Lisboa.

O entourage era distinto. Críticos de Passos à mesa: Ângelo Correia e Pedro Rodrigues. Distantes de Passos: Luís Alves Monteiro, Francisco Moita Flores e o deputado Feliciano Barreiras Duarte.

E o que têm todos os ilustres laranjas em comum? São mais próximos de Rui Rio que da atual liderança do Partido Social Democrata.

É nesse sentido que António Preto tem marcado presença em reuniões com dirigentes locais do PSD-Lisboa e plenários de concelhia.

Preto, que conhece Rio desde os tempos de Ferreira Leite ao leme do partido. Preto, amigo de Rodrigo Gonçalves, tal como o também reemergente Isaltino Morais. Preto, que pode roubar a distrital ao passismo e regressar à política – um regresso que já fora saudado por Gonçalves nesse jantar. Preto que vê o PSD-Lisboa a preparar o depois de Passos. E no mínimo, a querer aproveitá-lo.