Aquando da morte de Fidel Castro, foram muitos os que evitaram a palavra ditador, preferindo falar no seu lado romântico, de um líder que resistiu ao embargo americano e que se manteve no cargo mesmo após o fim da União Soviética, país que funcionava como mãe da revolução cubana, fornecendo os bens e o dinheiro necessário para a continuação da utopia. Os que o trataram como romântico esqueceram-se, deliberadamente, dos largos milhares de opositores que Fidel mandou fuzilar, e dos milhares de presos políticos que manteve durante o seu consulado. Fidel tinha alergia a eleições e à palavra democracia.
Curiosamente, um dos seus amigos dava pelo nome de Hugo Chávez, outro homem que se dizia representante do povo e que se manteve no cargo fazendo uma das ligações mais esotéricas de que há memória: o socialismo com a religião.
Com o desaparecimento de Hugo Chávez, surgiu uma figura pitoresca a liderar o país, mas sem o carisma do original. Maduro é uma imitação barata de Chávez e, tal como o seu antecessor, está a levar o país para a mais horrenda das misérias: para a fome, censura e inexistência de serviços de saúde. Se Fidel foi um ditador que privou o seu povo de liberdade – ao menos deu-lhe saúde e educação –, o aprendiz de feiticeiro Maduro nem isso pode oferecer. Apenas pode dar armas aos seus acólitos e procurar calar os opositores com a força das armas.
Maduro é um ditador que se recusa a abandonar o cargo de Presidente e nem a iminência de uma guerra civil o travará. A Venezuela é um país que tem uma das maiores reservas petrolíferas do mundo, que dispõe de muitas outras riquezas naturais, mas o seu povo vive na miséria, e o país tem uma das taxas mais altas de criminalidade. Esta semana, sucederam-se os confrontos nas ruas entre os ‘maduristas’ e os outros. Os outros são todos aqueles que querem eleições livres e que os resultados dessas mesmas eleições sejam válidos. Maduro, como Erdogan, na Turquia, quer perpetuar-se no poder, mas não pode ser uma nação exterior a tirá-lo do cargo. Os homens de Trump já anunciaram que estão atentos ao que se passa na Venezuela e isso não deixa também de ser preocupante. Olhando para a nova filosofia americana, teme-se o pior. Se Maduro é mau para os venezuelanos – e para a imensa comunidade portuguesa estimada num milhão –, o que dizer de Trump que quer mandar no mundo à força?