Pequim entrou ontem de novo em cena para pedir o fim das provocações entre os governos norte-coreano e norte-americano, que nas últimas semanas enterraram os pés na areia do conflito – verbal, sobretudo – e fizeram ressurgir o espetro de uma nova guerra na Península, agora com contornos nucleares. O presidente chinês já pedira uma vez calma desde que se encontrou com Donald Trump na Florida, há pouco mais de duas semanas, mas ontem, num telefonema com o presidente americano, Xi Jiping voltou a dizer que todos os países devem “demonstrar cuidado e evitar fazer qualquer coisa que piore a situação tensa”.
Ambos os líderes sublinharam a “urgência da ameaça que representam os programas balístico e nuclear da Coreia do Norte”, que ontem repetia as ameaças contra a frota americana que chegará em breve a águas japonesas. “Os Estados Unidos não devem alinhar em barafundas e considerar com cuidado qualquer consequência catastrófica desta sua ação militar provocadora”, lia-se ontem no Rodong Sinmun, a publicação oficial do Partido dos Trabalhadores da Coreia, que no domingo ameaçava afundar o porta-aviões Carl Vinson com um só disparo. “Os agressores devem esperar apenas corpos sem vida”, insiste o regime, que sexta-feira deteve um cidadão americano que dava aulas no país.
O rumo do porta-aviões americano no Pacífico só começou a definir-se nos últimos dias. Quando, há semanas, Trump ameaçou responder unilateralmente às provocações norte-coreanas, o USS Carl Vinson não estava ainda em marcha para o Mar do Japão, como pensavam os aliados em Tóquio e Seul. Na quarta-feira, aliás, a embarcação foi vista em águas das Filipinas, ainda a milhares de quilómetros do destino. Só no domingo é que dois navios de guerra japoneses integraram a esquadra americana para realizarem exercícios militares, o que é lido como forma de dissuadir o regime de demonstrações de força no aniversário do seu exército, que se celebra hoje.
A estratégia de longo prazo americana continua uma incógnita. A Casa Branca convocou ontem os 100 senadores do Congresso para uma reunião surpresa com os altos responsáveis militares americanos sobre a Coreia do Norte. No Pentágono defende-se que não há estratégia militar indolor e que um ataque ao regime resultará quase certamente em milhares – ou milhões – de mortes em ambos os lados do conflito. A presença de uma frota americana no Mar do Japão é vista por alguns observadores como uma ameaça vazia, mas, ontem, a embaixadora americana na ONU garantia que o seu governo está preparado para tomar uma ação em caso de “ataque a uma base” ou de avistar-se “um míssil intercontinental” capaz de chegar aos EUA.
Donald Trump falou também ontem com o presidente japonês, que reafirmou o apoio à nova postura americana, mais confrontacional do que a política de “paciência estratégica” de Barack Obama. A linha de comunicação está também aberta com o governo sul-coreano, na linha de fogo dos mísseis de curto alcance de Pyongyang e da sua poderosa artilharia.