Draghi voltou a frisar que a inflação se encontra longe do objetivo do BCE, que é a de a ter “perto, mas abaixo” de 2%, pelo que não haverá brevemente aumentos das taxas de juro do BCE.
Mas Draghi foi mais longe. Afirmou que o programa de compra de dívida pública dos Estados-membros da zona-euro vai continuar em 60.000 milhões de euros por mês até ao fim do ano, podendo depois continuar, “se for necessário”.
Estas observações de Draghi suscitam duas notas. A primeira é esclarecer que o BCE pode criar euros a partir do nada, e assim financiar gratuitamente essas compras de dívida. A segunda é que a compra de dívida pública de taxa fixa faz baixar as respetivas taxas de juro (na dívida de taxa fixa, se o preço do título sobe, a taxa de juro que lhe está subjacente desce, e vice-versa).
Por isso é que hoje a taxa de juro da dívida de Portugal com o prazo de dez anos terminou a sessão a 3,46%, valor que já não atingia desde a véspera do dia do Armistício, isto é, desde 10 de novembro, e já está longe do máximo de 4,30% verificados no mês passado, a 16 de março.
Um país, como Portugal, com uma taxa de desemprego de 10%, não se pode orgulhar de todos os seus indicadores macroeconómicos. Mas, claro, é melhor que o Estado pague menos em juros do que pague mais. Com a descida dos juros das últimas semanas Portugal, por enquanto, ainda não poupa nada em juros, mas não deixará de poupar da próxima vez que for ao mercado endividar-se. A evolução vai no bom sentido.