"Já tinha feito psicoterapia aos 16 anos mas aos 20 passei para uma psiquiatra, por recomendação da psicóloga. Tinha de ser alguém que pudesse passar medicação. Lá fui à consulta que mais uma vez os meus pais marcaram, sempre encarando a situação sem preconceitos e aceitando com naturalidade a recomendação da minha primeira psicóloga. Estava numa altura em que era incapaz de tomar decisões, ficava bloqueada, tudo me dava vontade de chorar.
Eu tinha vertigens, não olhava nas passadeiras, secretamente não me importava, sentia alguma perseguição. Por outro lado, fiquei mais fria e cruel também. A depressão e psicose foram identificadas, os meus pais ajudaram-me a aceitar a medicação e começou então uma fase de experimentação de medicamentos, até hoje. Tenho medo de não saber quem sou passados estes anos, se quando estou bem o devo à medicação, se quando estou mal se deve à falta dela. Tenho medo que isto tenha que ser para sempre. Perdi memória, perdi peso, às vezes pareço uma aluada, vejo e ouço pior. Mas ganhei coisas. E uma delas é esta: o fosso nunca mais é o mesmo depois de o conhecermos de frente e se não tivermos medo de o pisar."
Lisa, 23 anos, Porto