PJ atenta ao jogo que leva miúdos a tentar suicídio

A ameaça chega por telefone, com um convite para entrar num grupo do WhatsApp. Jovens são desafiados a cortarem-se e até a tentarem o suícidio. Unidade de cibercrime da PJ está a investigar mas para já não estabelece ligação «taxativa» com tentativa de suicídio em Albufeira. 

A Polícia Judiciária está a investigar as suspeitas de que o jogo Baleia Azul, que já foi associado a mortes de adolescentes no Brasil, Rússia e Espanha, está já a ser seguido por jovens em Portugal. O convite chega pelo telemóvel, para fazerem parte de um grupo do WhatsApp. Recebem instruções de um ‘curador’ para seguirem 50 desafios, que incluem cortarem-se ou furar as mãos com agulhas. O último é um apelo para que cometam suicídio.

Como o i revelou esta semana, mensagens a alertar os jovens para não carregar em links, mas com os endereços para entrar no jogo, já estão em circular em escolas de Lisboa. 

Uma adolescente de 16 anos que frequenta um colégio na Estrela revelou que o jogo está a assustar os jovens, por haver notícias de que, mal entram, não podem sair, inclusive com ameaças à família. «A primeira vez que vi uma mensagem a dizer para não abrir o link do jogo foi no InstaSnap de uma amiga. Eu acredito nestas coisas, eles podem fazer pressão e nós podemos não ser fortes o suficiente para resistir», confessou esta jovem, sob anonimato. «Há colegas que têm medo de seguir as regras até ao fim, uns de certeza que iam ignorar, mas outros iam fazer tudo até ao fim e iam guardar para si. Há amigas minhas que de certeza que nem iam dizer nada aos pais para se resguardarem».

Esta sexta-feira, o Correio da Manhã adiantou que uma jovem de 18 anos, que estaria a seguir o jogo, foi encontrada com cortes no corpo após ter caído de um viaduto na zona de Ferreiras, em Albufeira. O alerta foi dado pelas 2h00, depois de a jovem ter gritado por socorro. A ideia de que a rapariga estaria a seguir o jogo foi partilhada por um colega da Escola Secundária de Albufeira, que testemunhou que a rapariga tinha marcas no corpo associadas ao jogo Baleia Azul, cujos passos incluem escrever na pele com lâminas. A jovem tinha «sim» escrito na perna com uma navalha.

Carlos Cabreiro, diretor da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime da PJ, revelou ao SOL que a Polícia Judiciária já tem conhecimento de «situações concretas, que estão a ser analisadas para se perceber se têm diretamente a ver com a Baleia Azul». O responsável dá como exemplo a notícia sobre a jovem de Albufeira, cujos contornos ainda estão em análise. «É algo que estamos a explorar. Não podemos dizer taxativamente que tenha a ver com este jogo».

Cá, como lá fora, uma das incógnitas do jogo é saber quem está a dar instruções aos jovens e onde. Questionado sobre se existem suspeitas de que haja algum grupo a operar no país, Carlos Cabreiro diz que nada aponta nesse sentido, embora não disponham de dados sobre quem são os autores ou promotores do jogo. 

Sensibilizar os jovens

Se a investigação tenta ainda perceber os contornos do jogo, outra vertente é a prevenção. Até porque um dos elementos já constatados é que há jovens com 12 anos a aderir às redes sociais, quando legalmente só podem ser utilizadas depois dos 13 anos. Os perfis falsos, sem controlo parental, são uma das preocupações. «Já tivemos várias intervenções para dar conta do alarme e da situação perigosa em que isto se pode tornar», disse Carlos Cabreiros, que lembra que outros jogos online podem criar dependências e ilusões aos jovens, acreditando porém que estes são fenómenos residuais.

Também a PSP, questionada pelo i, deixou algumas avisos aos pais e disse estar atenta ao fenómeno, estando a monitorizar a adesão ao desafio Baleia Azul no país. Mas, até à data, estes mesmos alertas não foram divulgados nas páginas institucionais da Polícia. 

Do lado do Ministério da Educação, que o i confrontou esta semana com a disseminação do jogo Baleia Azul, ainda não houve qualquer orientação concreta às escolas. A tutela respondeu que, através da Direção Geral de Educação, desenvolve várias iniciativas junto das escolas e alunos no sentido de sensibilizar para as boas práticas no uso da internet e redes sociais, como é exemplo o Dia da Internet mais Segura, que se comemora em fevereiro nas escolas.

Além disso, informa a tutela, em sala de aula, no âmbito da educação para a cidadania, são já abordados, transversalmente, os temas relacionados com a saúde mental no sentido de sensibilizar para os sinais de alerta que alguns alunos podem evidenciar e frisar o papel essencial que as famílias, professores e pares têm na prevenção deste tipo de comportamentos. 

Jorge Humberto Costa, psicólogo escolar no Agrupamento de Escolas de Valongo, e promotor da plataforma Psis Escolas, disse não ter conhecimento deste jogo, mas explica que são conhecidos desafios deste tipo em que os jovens tentam experimentar vários estágios de dor. Além de estarem em risco jovens emocionalmente instáveis, o psicólogo alerta que outros podem acabar por fazê-lo por imitação e para se sentirem integrados nos grupos.

«O melhor que podemos dizer aos pais é para desligarem a televisão na hora das refeições e conversarem. Se percebem que os miúdos têm alguma alteração do comportamento por exemplo ao nível do sono ou da própria alimentação devem tentar perceber», recomenda o perito. «Outra preocupação pode ser verificar com alguma frequência quando saem do banho se há alguma marca nos braços ou nos antebraços».