Nos Estados Unidos da América, os millennials são a geração com maior número de doentes com depressão. A Organização Mundial da Saúde alertava, em 2016, para o facto de o suicídio ser a segunda principal causa de morte de jovens entre os 15 e os 29 anos. As causas das doenças mentais são sempre indeterminadas, difíceis de enumerar. Cada indivíduo é diferente, mas muitos deles é na internet que lançam os pedidos de ajuda.O que levará a geração i a sofrer desta forma? A instabilidade pode ser uma das respostas.
"Sou acompanhada pela mesma psicóloga há mais ou menos dois anos e ela nunca me etiquetou com nenhuma doença ou distúrbio específico. Há vários indicadores de ansiedade e de sintomas depressivos mas, ao mesmo tempo, tenho comportamentos que não permitem que me identifique como depressiva. É um bocadinho difícil identificar onde e como tudo começou. Várias coisas surgiram em 2013: estava insatisfeita com o curso, pensava muito no futuro e naquilo que queria fazer, pensei até em desistir, mas não tinha uma alternativa melhor e deixei-me estar. Acho que foram aí que surgiram os primeiros sintomas físicos indicativos de ansiedade, como o bruxismo, problemas gástricos (refluxo, dores de estômago, idas frequentes à casa de banho), sono instável… Quando fui à psicóloga, aproximadamente um ano depois de terminar a faculdade, estava num estado lastimável. Cheguei lá e disse-lhe praticamente: “Tem que me ajudar a resolver isto, porque eu não sou assim. Eu estou apática”.
Agora consigo dizer que estou numa fase bastante estável, mas dá-me pele de galinha pensar em como estava há dois anos. Uma relação horrorosa com a família; não sei propriamente como eles lidaram com isto, porque nunca se falou do assunto. Há uma certa falta de à vontade entre família, mas sobretudo entre mim e os restantes, dada a diferença de idades. Lembro-me que, em fases piores, era penoso olhar nos olhos das pessoas da família. Ir a festas de família era também horrível porque sabia que me iam perguntar como está a vida, o que queres/vais fazer, e eu simplesmente só conseguia responder de forma trombuda. Só mais tarde percebi, durante a terapia, que me sentia muito condicionada, presa e pressionada pela minha família. Como sou a mais nova, todos se sentiram no direito de mandar “bitaites sobre a minha vida e de me encherem de hiperprotecção. O que resultou numa insegurança muito grande e numa incapacidade absurda para tomar decisões, que vão de coisas tão grandes a coisas minúsculas como decidir o que comer ao olhar para um menu de um restaurante.
Depois a minha personalidade controladora e perfeccionista também agudizou alguns sintomas – era bastante obcecada com o que comia e com quanto pesava e com a imagem, uma coisa fácil de controlar quando sentimos que o resto está fora de controlo. A preocupação com a imagem e outras paranóias sociais acho verdadeiramente que estão relacionadas com episódios de "bullying" que sofri entre os 11-13 anos, mais ou menos. Tem sido um processo muito difícil, talvez a coisa mais difícil que fiz alguma vez na vida, mas acho que qualquer pessoa que sinta algo deste género deve procurar ajuda. Eu tenho a sorte de ter encontrado (apesar de só à terceira tentativa) uma psicóloga com quem me identifico e com um método que faz sentido para mim. Acho mesmo que sem ela a minha vida podia ter "descambado" a um ponto sem retorno. Agora posso dizer que estou muito melhor, com relações melhores com os outros e, sobretudo, comigo, apesar de ainda haver um longo caminho a ser percorrido. Ainda sinto uma desesperança grande em certos momentos – algo muito indicativo de uma depressão -, mas também sinto que consigo cada vez mais dar a volta por cima. Sinto que sou muito mais desconcentrada, que me custa ficar presa a uma acção longa, que me custa fazer as coisas uma de cada vez."
Margarida, 23 anos, Porto