Nos Estados Unidos da América, os millennials são a geração com maior número de doentes com depressão. A Organização Mundial da Saúde alertava, em 2016, para o facto de o suicídio ser a segunda principal causa de morte de jovens entre os 15 e os 29 anos. As causas das doenças mentais são sempre indeterminadas, difíceis de enumerar. Cada indivíduo é diferente, mas muitos deles é na internet que lançam os pedidos de ajuda.O que levará a geração i a sofrer desta forma? A instabilidade pode ser uma das respostas.
"Sempre fui uma miúda feliz. Sempre tive amigos, uma família normal (o que será uma família normal?), nunca me faltou nada. Quando tinha 20 anos, comecei a deixar de me sentir “eu”. Chorava muitas vezes sem motivo, ficava horas na cama sem vontade de me levantar, comecei a sair mais à noite, a beber mais, a ser menos produtiva. Nunca quis contar nada aos meus pais. Tinha medo que se sentissem culpados ou, pior, que não me compreendessem. Foi uma jornada independente. Nunca vou poder dizer “solitária” porque, felizmente, tive grandes amigos como apoio. No início, fui muito impermeável à ideia de tomar medicação, fazia apenas psicoterapia. O psicólogo foi essencial. Tentei recuperar alguns hábitos antigos e até comecei a fazer desporto – e eu que nem gosto de desporto! Ainda assim, a medicação acabou por se revelar imprescindível e comecei a tomar anti-depressivos.
Acho que medicação e psicoterapia têm de caminhar lado a lado,porque, infelizmente, (ainda) não existe uma pílula da felicidade que nos corrija a vida e as conversas que tinha no consultório funcionaram como um click para algumas reflexões posteriores. Mais recentemente, decidi que estava na altura de contar aos meus pais. As reacções foram exactamente as que eu temia: sentiram-se mal perante a ideia de terem falhado comigo, de nunca se terem apercebido, de não terem estado lá para mim. E continuaram sem compreender como é que uma “rapariga tão feliz” podia ter uma depressão. Quando escondes tanto e durante tanto tempo, a felicidade passa a ser a tua máscara diária. Agora, é nesse sentido que tenho de os “educar”. O pior já está feito, acho eu."
Aurora, 23 anos, Lisboa