O Campeonato do Mundo de sub-20, com fase final marcada para a Coreia do Sul, está à porta. Emílio Peixe, o selecionador nacional da categoria, revelou os convocados e já disse que Portugal poderá ser um dos candidatos à vitória numa prova que já conquistou em 1989, na Arábia Saudita, e em 1991, em Portugal, numa inesquecível final frente ao Brasil, com o Estádio da Luz a rebentar pelas costuras, o que na época constituía presença para mais de 120 mil pessoas.
É já no próximo dia 20 que, pelas seis horas da manhã aqui no Continente, se abre a 21.a edição deste torneio organizado pela FIFA, com um Venezuela-Alemanha para o Grupo B, em Dajeon, não muito longe de Seul, o mesmo local onde, em 2002, durante o Mundial da Coreia do Sul-Japão, se disputou um polémico Itália-Coreia do Sul. Aliás, este campeonato que está à beira de se iniciar percorre, um tudo-nada saudosamente – é difícil esquecer a forma como os sul-coreanos viveram o seu Mundial, enchendo estádios, ruas, avenidas e praças gritando “OOOH! Pilseung Korea!” (OHHH! Coreia da Vitória Absoluta!) -, esse campeonato dos maiores, ou dos adultos, se assim lhe quisermos chamar, apenas como termo de comparação.
De norte para sul, lá do maldito paralelo 38, uma das mais extraordinárias aberrações que me foi dado ver ao longo de mais de 35 anos a dar voltas ao planeta, a Incheon e a Suwon, de Cheonan a Daejon, não esquecendo a ilha de Jeju, bem no sul da península, não longe de Pusan, o local onde a Hyundai construiu um dos maiores impérios da economia asiática e mundial, repetem-se estádios e cidades. O futebol do mundo regressa a um pequeno país que se deixa fascinar por ele.
Portugal
Deitemos uma vista de olhos pela convocatória de Emílio Peixe, um jovem técnico de qualidades bem visíveis e que tem feito uma carreira com muitos pontos de interesse. Assim sendo: guarda-redes, Pedro Silva (Sporting), Diogo Costa (FC Porto) e Luís Maximiano (Sporting); defesas: Pedro Empis (Sporting), Diogo Dalot (FC Porto), Yuri Ribeiro (Benfica), Rúben Dias (Benfica), Jorge Fernandes (FC Porto) e Francisco Ferreira (Benfica); médios: Pedro Rodrigues (Benfica), Florentino (Benfica), Gedson Fernandes (Benfica), Miguel Luís (Sporting), Pedro Delgado (Sporting), Bruno Almeida “Xadas” (Sporting Braga), Diogo Gonçalves (Benfica), Buta (Benfica) e Bruno Costa (FC Porto); avançados: Alexandre Silva (Vitória Guimarães), José Gomes (Benfica) e André Ribeiro (FC Zurique/Suíça).
Um grupo de rapazes preparado para tudo, aliás como não podia deixar de ser, já que entre eles se encontram muitos com experiência, por exemplo, de Europa e de Youth Champions League, o que lhes dá aquela força que advém da sabedoria, por muito jovens que sejam.
Encaixado no Grupo C, com a Zâmbia, Irão e Costa Rica, um conjunto de adversários meio exótico, se assim se pode classificar, e com todas as desconfianças que isso deve acarretar – a memória dos Jogos Olímpicos de 2004 não está tão apagada quanto isso -, os lusitanos entram em liça já no segundo dia da prova, 21, defrontando a Zâmbia. Emílio Peixe foi considerado o melhor jogador daquele Mundial de sub-20 de 1991, que foi um dos mundiais do nosso contentamento. Distinção de categoria numa equipa que tinha Figo, Rui Costa e João Pinto, só para citar os mais brilhantes. Não admira, por isso, que revele claramente as suas ambições, agora no comando de uma seleção na qual se assumiu como grande: “Os pergaminhos que temos ao nível desta competição são mais um fator de motivação e acarretam responsabilidade que assumimos. Gostamos da confiança que os portugueses depositam em nós. O nosso primeiro grande objetivo é passar à fase seguinte; o segundo é ficar em primeiro no grupo.”
Nada de extremamente relevante, dirão os leitores que costumam exigir que Portugal se apresente sempre como candidato aos títulos que disputa. Mas Peixe vai um pouco mais longe, embora não tão longe como Fernando Santos antes do campeonato da Europa do ano passado: “Gostava muito de só regressar no dia 11 de junho. É evidente que sonhamos e estamos a preparar este momento há cerca de um ano. Tanto a federação como os jogadores querem muito ganhar. O que nos alimenta é ganhar, mas não podemos fugir de um dos focos principais da formação, que é projetar jogadores para a seleção A. Mas, até lá, queremos muito ganhar!” Em seguida debruçou-se um pouco sobre questões mais particulares: “As ausências do Brasil e do campeão em título, a Sérvia, indicam que as seleções presentes foram mais fortes no trajeto para o campeonato do mundo. Quanto aos nossos adversários diretos, posso dizer que a Zâmbia é uma seleção com três jogadores que já trabalharam com a seleção principal. É uma equipa muito competitiva e agressiva, com jogadores muito evoluídos tecnicamente. A Costa Rica tem jogadores que jogam em contextos competitivos diferentes e não será um adversário nada fácil. O Irão é uma equipa recheada de qualidade a nível individual.”
À procura do seu terceiro título, Portugal parte para a Coreia do Sul com ambições, mas também com a consciência de que já lá vão quase 26 anos sobre a grande festa de Lisboa. O selecionador sabe-o como ninguém. Participou nela por dentro após aquele penálti de Rui Costa que abateu o Brasil e incendiou a Luz. Estava lá e vi. Eu e mais uns 120 mil…