A ideia de apoiar a recandidatura de Rui Moreira à Câmara do Porto está na cabeça de António Costa há mais de um ano. No princípio de junho do ano passado, durante o último congresso socialista, Costa deu como adquirido o apoio do PS a Moreira, naquela base de que ‘em equipa que ganha não se mexe’. Depois, foi obrigado a medir melhor as palavras: o apoio a Rui Moreira por si anunciado solenemente não caiu bem em setores do aparelho do PS, a quem custa não só ver o partido sem candidato próprio, como vê-lo a apoiar uma personalidade muito mais próxima do CDS. Com o tempo, a coisa foi dada como adquirida. Os descontentes foram mais ou menos neutralizados. O PS assumia então uma espécie de coligação contra-natura cujo resultado mais óbvio seria o de fazer disparar a votação no Bloco de Esquerda. O candidato João Semedo diz que a sua é a única candidatura socialista à Câmara do Porto. Tem razão.
A na Catarina Mendes não disse nada de especial na entrevista que deu ao Observador na sequência da qual Rui Moreira decidiu humilhar o PS. É claro que ao apoiar Rui Moreira, uma vitória de Moreira também seria uma vitória do PS como disse Ana Catarina Mendes. Ou não? É admissível que os socialistas apoiem Rui Moreira não participando nas listas?
Ao ‘descartar’ o apoio do PS, ainda que admitindo ter Manuel Pizarro nas listas para a Câmara, Rui Moreira decidiu pôr sal na ferida. Havia uma ferida aberta e Moreira quis torná-la (propositadamente?) ainda mais evidente – claro que a aliança com o ‘menino da Foz’ não é fácil de aceitar para os socialistas.
António Costa não é parvo. É evidente que hoje vai aparecer na convenção autárquica com um candidato socialista para apresentar nas próximas autárquicas. Não há maneira de não o fazer, se não quiser comprometer o futuro do partido no Porto para os próximos anos. É evidente que é difícil que esse candidato seja Manuel Pizarro, mas talvez seja preferível uma recandidatura de Pizarro sozinho à humilhação da tropa socialista por um betinho da Foz.
Se, por alguma razão incompreensível, o PS continuar a apoiar Moreira, João Semedo pode começar a comprar os foguetes. O eleitorado socialista transfere-se com agrado para o Bloco.