A corrida não é entre a lebre e a tartaruga, até porque o Coelho está a perder terreno. É Assunção Cristas quem leva grande avanço.
Desde que Teresa Leal Coelho é a candidata do PSD à Câmara Municipal de Lisboa que ainda não se reuniu uma única vez com os cinco presidentes de junta de freguesia que os sociais-democratas elegeram em 2013.
Leal Coelho, que, aliás, é autarca em Lisboa, não se reuniu também com qualquer autarca do concelho eleito nas últimas eleições autárquicas, de modo a discutir o seu projeto para a capital.
A vereadora ausente tornou-se na candidata ausente. Desde que o partido anunciou o seu nome depois de a deputada ter recusado o mesmo convite, mas para a Câmara de Odivelas, que Teresa Leal Coelho deu uma entrevista nessa semana e nada mais. Passou-se mais de um mês e não se deu uma única iniciativa de campanha.
Teresa surgiu na Assembleia da República com um discurso fluído nas comemorações do 25 de Abril, pedindo uma sociedade «livre, justa e inclusiva», foi a Washington D.C. como representante do parlamento a uma conferência do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial e dirigiu-se à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para ser recebida pelo Provedor, Pedro Santana Lopes, que era o favorito do PPD para disputar Lisboa este ano.
Coincidentemente, essa é uma visita que Assunção Cristas também fez no início da sua candidatura. Ambas as audiências, ao que o SOL apurou, decorreram cordial e sorridentemente.
Mas Leal Coelho, como candidata à presidência da capital, ainda pouco fez concretamente. O estilo de oposição a Fernando Medina prossegue o mesmo vazio.
«Como pessoa, incrível. Como técnica, competente. Como colega, impecável. Como candidata, não sei porque ainda não vi…», admite ao SOL um deputado da bancada laranja, reservado ao anonimato.
Se o contacto de Leal Coelho com a concelhia do PSD/Lisboa era compreensivelmente nulo a partir do momento em que Mauro Xavier, entretanto de saída, afirmou não voltar «a votar Passos», e assim continuou desde que Rodrigo Gonçalves, outro dirigente distante da direção nacional, assumiu a presidência interina do PSD/Lisboa, o facto é que Leal Coelho também tem mantido pouco contacto com a estrutura da distrital. Aí, menos compreensivelmente.
«Acho que toda a gente entendeu que uma candidata tão próxima de Passos Coelho, e ainda por cima vice-presidente de partido, não quisesse conversar com uma concelhia assumidamente hostil. Mas não aparecer de todo, não se entende…», termina a mesma fonte parlamentar, ao SOL.
Por outro lado, Assunção Cristas, do CDS-PP, vai em 128 eventos, conferências e visitas desde que se apresentou como candidata à Câmara de Lisboa em Oliveira do Bairro, no mês de setembro do ano passado.
128 a zero
A presidente do CDS, que faz questão de tentar utilizar os transportes públicos o maior número de vezes possível para se deslocar na campanha por Lisboa, organizou um ciclo de conferências intitulado ‘Ouvir Lisboa’, sendo estas coordenadas por Carmona Rodrigues, seu mandatário e ex-presidente da câmara (pelo PSD).
Até à data, as sessões englobaram temas como políticas sociais, mobilidade, cultura, segurança e comércio, contando com oradores de outros quadrantes políticos, académicos e intervenções da sociedade civil.
Nas últimas duas semanas, a agenda da candidata e líder dos centristas foi particularmente ativa. Reuniu-se com a administração da EMEL, que já sugeriu como necessária mas não aterradora aos cidadãos lisboetas, encontrou-se com os comerciantes da zona da Baixa, visitou o bairro social na Ameixoeira, deslocou-se a um concurso de ideias no colégio São Tomás, assistiu a um concerto musical no Museu Oriente e participou num jantar/debate sobre a cidade na Ordem dos Engenheiros.
Excecionalmente, cruzou-se com Leal Coelho – e Marcelo – no desfile náutico que celebrou o 160º aniversário da Associação Naval de Lisboa.
Este domingo vai à procissão da Senhora da Saúde, não sendo a primeira procissão em que participa.
O certo é que Cristas está e, ao contrário de Leal Coelho, parece estar em todo o lado. De colégios católicos a bairros sociais (já visitou 17), de missas a desfiles de moda, de debates a almoços e das suas conferências a qualquer evento em que se discuta Lisboa, Cristas vai – e de preferência de transportes.
João Gonçalves Pereira, que é porta-voz da candidatura centrista e vereador na Câmara, afirmou ao SOL: «Sentimos na rua, nas reuniões e nas iniciativas uma profunda convicção que a alternativa a Fernando Medina é Assunção Cristas».
Atualmente, o presidente em funções, Medina, ainda não apresentou a sua candidatura oficialmente, mas é presença mediática habitual em comentário televisivo e aparições institucionais.
Sobre os principais pilares da candidatura do CDS-PP, Gonçalves Pereira não descarta a mobilidade da cidade: «É uma grande preocupação da nossa candidatura, nomeadamente o défice de cobertura dos transportes públicos em Lisboa».
Listas para que te quero
Se a distância de Teresa Leal Coelho ao processo autárquico em Lisboa se mantém, tanto como oposição quanto ao nível presencial, a candidata também não tem revelado particular interesse na elaboração das listas para a vereação.
Essa pasta, como já noticiou SOL em meados de abril, está entregue a Miguel Pinto Luz, o líder da distrital do PSD.
Leal Coelho mantém contacto com José Eduardo Martins, o candidato a presidente da Assembleia Municipal que a acompanhará no boletim de voto, mas por razões programáticas.
Ao que o SOL apurou, Leal Coelho não descarta as ideias do coordenador autárquico que até foi nomeado pela concelhia, e a relação de trabalho tem agradado à sede nacional. «Um crítico [de Passos], mas um crítico honesto e que quer dar o seu contributo à candidatura em Lisboa», é o que se ouve na São Caetano à Lapa.
No que diz respeito à vereação, Sofia Galvão – outra vice-presidente do PSD – não é descartada para acompanhar Teresa Leal Coelho na lista, mas a dinâmica continua a ser de alguma abertura a independentes.