A morte do destacado jornalista mexicano Javier Valdez e a tentativa de assassinato de uma funcionária num pequeno jornal do sudoeste gerava ontem uma onda de protestos no México, onde já seis jornalistas morreram desde o início do ano e que desde 2000 foram assassinados 105 profissionais de comunicação.
Pelo menos duas publicações pararam ontem, em protesto contra a impunidade na violência contra jornalistas. “No México mata-se jornalistas porque não acontece nada”, escrevia o portal “Animal Político” nas redes sociais, justificando o apagão de notícias, que se repetiu na revista “Nexos”.
Esta terça-feira, dois jornais publicaram um abaixo-assinado de 38 jornalistas, académicos e escritores exigindo o fim da impunidade e uma solução para a violência.
Valdez morreu na segunda-feira na Sinaloa, o seu estado-natal e o epicentro do grande cartel do narcotráfego mexicano com o mesmo nome – comandava-o “El Chapo”, capturado no último ano e entretanto extraditado para os Estados Unidos, dando início a uma sangrenta luta pela liderança do cartel.
Cartel de Sinaloa
Dois homens retiraram Valdez do seu carro e dispararam sobre o seu corpo. No mesmo dia, Sonia Córdova, subdiretora comercial do “El Costeño” e casada com o seu proprietário, foi baleada com o seu filho no carro. O filho, de 26 anos, morreu. Córdova está ferida no hospital.
Mas foi a morte de Valdez que mais agitava ontem o México e as redes sociais. Autor de vários livros e importante fonte de informação para jornalistas estrangeiros que procuravam entender as dinâmicas do tráfico de droga no México, Valdez escreveu na sua última obra que se sentia tanto em risco com traficantes como com o governo.
“Falamos também de como nos cerca o governo”, disse em entrevista à sua publicação, “La Jornada”. “[Falamos] de como vivemos numa redação infiltrada pelo narcotráfico, ao lado de algum companheiro em quem não podes confiar, porque quiçá é ele que passa informações ao governo ou aos delinquentes.”