Hóquei no gelo. Há um nome português no grande circo sobre patins!

O Campeonato do Mundo de hóquei no gelo entra, agora, na fase a eliminar. Com a final marcada para o próximo domingo, em Colónia, já definiu os grandes favoritos, com o Canadá à cabeça

Quando a vida nos leva para lá das fronteiras de países como a Suécia, a Rússia ou a República Checa, por exemplo, e só para dar exemplos europeus, já que a América do Norte vive desportivamente noutro mundo, se assim se pode dizer, é que percebemos a força que o hóquei no gelo tem em sociedades, no mínimo confortáveis na sua vida debaixo de temperaturas largamente negativas. É bem verdade que a moda deste desporto meio estranho, com laivos de violência regularmente aceite – exceptuando, como é óbvio, as inenarráveis cenas de pancadaria que surgem, espontâneas, para gáudio de adeptos com gostos circenses -, também já chegou a Portugal. Pudemos, a devido tempo, trazer até às páginas deste seu jornal a curiosa disputa de jogos de hóquei no gelo levadas a cabo (quem diria?) na praça de touros de Elvas, local que tem tanto que ver com gelo como o toucinho com Mafoma. Mas hoje cabe-nos falar do Campeonato do Mundo que se disputa, neste momento, entre Paris e Colónia, e que entra na fase dos quartos-de-final.

Explique-se, para os mais leigos ou mais distantes, que serão muitos, com certeza, e não é motivo de espanto, logo agora que o país se atira para fora de pé dos trinta e muitos graus do senhor Anders Celsius, que os Mundiais de hóquei no gelo se disputam anualmente desde 1930, tendo os torneios dos Jogos Olímpicos de 1920 e dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1924 e 1928 sido considerados como primeiras edições. Daí para cá, sendo interrompidos pelo advento da II Grande Guerra, tiveram as suas vicissitudes. Isto é, até 1968, nos anos de Jogos de Inverno, as duas competições geminaram-se.

Não é de admirar que nesta edição levada a cabo sob a égide dos personagens de Goscinny e Uderzo, Astérix e Obélix, e distribuida irmãmente pela Accor Arena e a Lanxess Arena, o Canadá tenha sido a primeira selecção a ultrapassar a fase de grupos – afinal falamos de um dos mais históricos membros desta confraria do gelo, se nos dão licença, com 26 títulos no bornal, só ultrapassados pela URSS/Rússia, com 27.

Os resultados dos canadianos até ao momento foram (quase) inequívocos – 4-1 à República Checa, 7-2 à Eslovénia, 6-0 à Bielorússia, 3-2 à França, 2-3 com a Suíça, nas penalidades, e 5-0 à Noruega. A fase final da prova alberga dois grupos de oito equipas. Os quatro primeiros classificados de cada grupo qualificam-se para os quartos-de-final, que se disputam a partir de amanhã, e os últimos descem para a chamada I Divisão A.

Encaixado no Grupo B, o Canadá é um dos grandes favoritos à vitória final, até porque campeão em título. Aliás, bi-campeão em título já que triunfou em 2015 e 2016, batendo nas finais respectivas, a Rússia e a Finlândia. No Grupo A, Rússia, Suécia e Estados Unidos estão também nos quartos-de-final (resta saber a classificação final par que lhes sejam atribuidos os adversários), sendo a Alemanha, Letónia e Dinamarca candidatas ao lugar que sobra. Junto com o Canadá, no Grupo B, seguirão a República Checa, a Suíça e a Finlândia, com a desilusão a tomar conta de uma das equipas da casa, a selecção francesa que, apesar de não ter palmarés relevante na competição, criou expectativas talvez exageradas, pelo que foi possível seguir nas páginas desportivas da sua geralmente tão chauvinista imprensa. “Bof! Comme d’habitude”, cantaria Claude François bem antes da versão de Sinatra.

Da Costa. Curiosamente, é de ascendência portuguesa uma das grandes figuras da equipa de França neste Mundial. “Houve uma pressão excessiva sobre nós, muito porque jogávamos em casa”, disse ontem ao L’Équipe. “A derrota frente à Noruega, logo na abertura (2-3) marcou-nos bastante. Entrámos com esperanças, mas foi um choque”. Com duas vitórias e duas vitórias nnas penalidades – não há empates, a vitória vale 3 ponos, a vitória no dsempate vale 2 pontos e a derrota no desempate vale 1 – a França ficará fora da fase decisiva.

Stephane Da Costa, assim mesmo com o D maiúsculo, à francesa, é neto de portugueses. Nasceu em Paris, de mãe polaca. Tem 27 anos e os irmãos, Teddy e Gabriel, também são profissionais de hóquei no gelo, o primeiro numa equipa finlandesa e o segundo no campeonato gaulês. A sua carreira tem-se dividido entre o Canadá (Ottawa Senators) e Estados Unidos (Texas Tornado, Binghamton Senators, Merrimack College, Sioux Mousketeers). Actualmente pertence ao CSKA de Moscovo.

Com mais de quarenta internacionalizações pela França, Da Costa viveu o seu grande momento internacional na histórica vitória sobre o Canadá, no Campeonato do Mundo de 2014, marcando dois golos. “O nosso grande objectivo era o apuramento”, confessou. “Mas isso não pode impedir-nos de ficarmos contentes com o que foi feito até aqui”.

Com a final marcada para o próximo domingo, dia 21, o 2017 IIHF World Championship, como é oficialmente designado, terá um resto de semana fervilhante. Principalmente para os apaixonados por uma modalidade que nunca foi muito do gosto dos povos do sul, embora a Itália tenha atingido a divisão principal – irá descer esta época. A Lanxess Arena de Colónia, no bairro de Deutz, na margem direita do Reno, será invadida por mais de 18 mil espectadores. O inferno ao redor do gelo.