James Comey: o único erro de Trump (mas não é o que está a pensar)

1.É o facto que domina a política norte-americana: a demissão de James Comey do cargo de director nacional do FBI por parte do Presidente Donald Trump. A razão avançada pelo Presidente dos Estados Unidos da América prende-se com a necessidade de uma renovação de lideranças e procedimentos no seio da agência responsável pela investigação criminal…

1.É o facto que domina a política norte-americana: a demissão de James Comey do cargo de director nacional do FBI por parte do Presidente Donald Trump. A razão avançada pelo Presidente dos Estados Unidos da América prende-se com a necessidade de uma renovação de lideranças e procedimentos no seio da agência responsável pela investigação criminal norte-americana.

Designadamente, Donald Trump apontou como justa causa para a demissão de Comey o seu trabalho pouco eficiente, mesmo negligente, no caso que envolvia Hillary Clinton enquanto Secretária de Estado de Barack Obama.

2.Mais uma vez – reclamam os apoiantes de Donald Trump e numerosos americanos, ainda que distantes dos assuntos políticos correntes – a responsabilidade criminal de um Clinton ficou por demonstrar – sem que a sua inocência seja afirmada categoricamente. É mais um caos nebuloso que irá perseguir o casal Clinton (note-se que mesmo Joe Biden, Vice-Presidente de Obama, já veio criticar Hillary Clinton, apontando-lhe a responsabilidade maior na derrota eleitoral democrata do passado mês de Novembro).

E a disponibilidade mostrada já por Joe Biden para substituir Donald Trump revela que o Partido Demcorata, ainda orquestrado por Barack Obama, não irá desistir até que as estruturas de poder do Estado americano provoquem a queda do Presidente Trump. Quanto mais cedo, melhor: isto porque esperar quatro anos poderá conduzir à impossibilidade absoluta de restaurar o “obamismo”.

Esperar quatro anos poderá, pois, dar tempo ao Presidente Donald Trump para reverter (e fazer esquecer) o legado de oito anos de Barack Hussein Obama – daí a impaciência do ex-Presidente dos EUA, que até fez questão de apoiar publicamente Emmanuel Macron para dar sinal de vida.

3.Dito isto, não podemos deixar de assinalar a imensa hipocrisia dos democratas na reacção à demissão de Comey. Chuck Chummer – líder dos democratas na Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA – afirmou-se “chocado” pela “colapso do sistema de justiça”. Antigos membros da campanha de Hillary e seus apoiantes de primeira hora alinharam pelo mesmo diapasão.

Imagine-se que a própria Hillary Clinton ressurgiu novamente (criando mais um SUPER PAC – fundos que visam angariar dinheiro para financiar a intervenção política) aproveitando a onda de críticas ao Presidente Donald Trump pela tão badalada demissão. Os democratas e alguns republicanos que teimam em ignorar os sinais emitidos pelo povo americano (e poderão pagar bem caro pela sua teimosia e sentimento anti-Trump primário) acenam já com a ameaça de “impeachment”, isto é, destituição do Presidente.

4.Ora, os democratas não têm qualquer autoridade moral (diríamos mesmo legitimidade) para criticar a demissão de James Comey – pelo contrário, os democratas já deveriam ter aberto várias garrafas de champagne (e do mais caro!) para comemorar a decisão do Presidente Trump. Porquê?

Fácil: porque os democratas foram os mais críticos da actuação de James Comey durante meses, exigindo a sua demissão e até responsabilização política pela derrota de Hillary Clinton! A narrativa dos democratas – incluindo de Barack Obama e de Chuck Schummer – foi a de que a reabertura da investigação aos emails de Hillary decidida pelo ex-director do FBI em plena campanha eleitoral custou a derrota dos democratas nas últimas presidenciais. Daqui concluíram os estrategas de Hillary que James Comey estava conluiado com – imagine-se!- a candidatura de Donald Trump!

5.Conclusão: os democratas criticam Donald Trump, até sugerindo um processo de destituição do Presidente, pelo facto de o Presidente ter feito…o que Hillary Clinton teria decidido logo no primeiro dia caso fosse eleita Presidente dos EUA! Ou seja, o tom da oposição dos democratas não é lutar pelo que é melhor para a grande pátria americana: é de apenas fazer um ataque cerrado a Donald Trump. Custe o que custar, Trump terá de cair – eis a estratégia de Chuck Schummer e Barack Obama.

6.Haverá algum americano – ou cidadão do mundo – que compreenda que os democratas mudem de opinião do dia para a noite, consoante as conveniências políticas? Então, James Comey era um incompetente, uma ameaça para o sistema de justiça americano porque estava conluiado com Donald Trump para perseguir Hillary Clinton – agora, depois da demissão decidida por Trump, Comey é o melhor, a última garantia do sistema de justiça e até se chora pela sua saída do FBI!

Em que ficamos: James Comey era uma ameaça ou uma esperança para o sistema de justiça americano? Ou haverá políticos que confundam o interesse da América com o interesse de alguns grupos ou com a defesa do legado de Obama?

7.Ora, a mudança de opinião sem qualquer fundamento material que não seja o próprio interesse pessoal, egoístico, fundado apenas em conveniências e não em convicções – para nós, trata-se da definição mais exemplar de hipocrisia política. O que leva à conclusão que o grande erro de Donald Trump foi ter prolongado o mandato de James Comey ou,segundo as palavras do Presidente dos EUA, “lhe ter dado uma segunda oportunidade”.

Donald Trump deveria ter demitido Comey logo no seu primeiro dia como Presidente – isto é, deveria ter feito o que Hillary Clinton (sem remorsos ou hesitações) faria. Desta forma, Donald Trump teria entalado o Partido Democrata que não teria qualquer argumento para contestar a decisão do Presidente, nem tão-só para a contestar: afinal de contas, os democratas passaram meses a criticar James Comey.

8.Enfim, esta polémica não passará de mais um episódio político motivado pela (ainda) inexperiência política de Donald Trump, pelo seu voluntarismo e vontade de resolver tudo sozinho e rapidamente – bem como pela ambição desmedida e frustração ainda não ultrapassada dos democratas, sobretudo da ala que ainda vê Barack Obama como um “Deus na terra” (a qual se revela cada vez mais próxima do Bloco de Esquerda português).

9.E no final? No final, a montanha vai parir mais um rato – e Donald Trump prosseguirá o seu mandato, aplicando a sua agenda política. Precisa-se, no entanto, mais habilidade política, capacidade de gestão política e comunicacional na Casa Branca e reservar o Presidente Donald Trump para as grandes questões que preocupam os cidadãos americanos: a economia e segurança.

10.A vontade dos democratas em avançar com um processo de “impeachment” é um disparate autêntico: numa altura em que o Brasil discute um segundo impeachment em menos de um ano, em que a Venezuela está em bolandas, em clima de guerra civil – vão os Estados Unidos, potência maior do continente e seu referencial de estabilidade, cometer a irresponsabilidade de se lançarem num caos institucional de consequências imprevisíveis?

11.“It’s time to get tough” na criação de empregos e no combate político, Presidente Donald Trump!

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