Brasil. Um país a caminhar para o abismo

Esquerda e direita ou a ilustre flor do entulho da sociedade brasileira onde começa a ser difícil encontra alguém que não esteja envolvido no escândalo da Lava Jato. Cairá o poder na rua?

No anúncio, havia sempre alguém que era familiar ou conhecido de outras personagens que iam sendo convidadas para um Porto de boas vindas. A história dava a ideia de nunca ter fim, já que ao cunhado do primo surgia a prima do cunhado e por aí fora.

Olhando para o Brasil, o anúncio assenta que nem uma luva nos escândalos financeiros tornados públicos, parecendo que os primos, cunhados, tios e pais nunca mais terminam e que, por este ritmo, não haverá cadeias para tanto notável. É impressionante como quase ninguém sai bem desta história, se excetuarmos o juiz e os delegados do Ministério Público que investigam o escândalo do Lava Jato.

Um ex-Presidente, Lula da Silva, encontra-se entre os réus e fez esta semana uma declaração surpreendente ao tentar incriminar a mulher que morreu há três meses. A vergonha nem dá descanso à morte. Pelo meio da mega operação que procura demonstrar uma vasta teias de negócios corruptos, a ex-Presidente foi destituída do cargo por meios pouco claros, até porque entre os seus acusadores estavam, como se prova mais uma vez, senadores e afins alegadamente corruptos.

Mas à semelhança do anúncio, o filme da corrupção brasileira não tem fim. Todos os dias aparece mais um personagem, chegando-se agora ao cúmulo de o último denunciado ser precisamente o Presidente em exercício. Michel Temer é ‘escutado’ a concordar com o pagamento a um dos arguidos para que este se mantenha calado.

No Brasil, a delação premiada é uma realidade, permitindo aos arguidos denunciarem outros, procurando uma diminuição na sua pena.

A grande questão que se coloca é se o Brasil não irá ficar ingovernável, atendendo a que começa a ser difícil encontrar alguém que não esteja envolvido no operação Lava Jato. Curiosamente, a imprensa brasileira divide-se entre os apoiantes de Lula, Dilma e restantes membros do Partido dos Trabalhadores e aqueles que acreditam na inocência de Michel Temer, Aécio Neves e seus correligionários.

A operação Lava Jato faz lembrar, e muito, a Operação Marquês, sendo que a grande diferença é que Portugal sofreu imenso com os supostos atos de corrupção, mas como tem uma democracia estável o país não ficou ingovernável. Já o Brasil corre sérios riscos de ver grandes confrontos nas ruas…