Importações de papel disparam em 2017

Portugal importa cada vez mais papel e obras de celulose. Só desde o início do ano foram importados mais de 250 milhões de euros.

A reforma da floresta tem dado que falar, nomeadamente a medida que prevê um travão  à plantação de eucalipto. A verdade é que de acordo com os dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) ao SOL, as importações de papel, cartão e obras de pasta de celulose têm vindo a aumentar. De janeiro a março deste ano foram importados mais de 250 milhões de euros, quando em igual período de 2016 tinham sido  importados menos quase 10 milhões.

Em termos anuais, os dados também não mentem. Em 2013 Portugal importava de todo o mundo mais de 945 milhões de euros em papel e pasta, mas o valor tem vindo a aumentar de ano para ano. Em 2016, as importações neste setor chegaram mesmo a mais de 990 milhões de euros e muitos admitem que a tendência seja continuar a importar cada vez mais matéria-prima. Um dos países que mais vende aos empresários português é a Espanha, mas outros têm vindo a ganhar terreno, nomeadamente, a China.

Uma fonte ligada ao setor explica que «os preços do papel em Portugal começaram a aumentar e houve extinção de alguns tipos de papel que eram fabricados em Portugal. A solução foi procurar em outros países como a China. Mesmo com as deslocações, acaba por sair mais barato comprar lá».

Contactada pela SOL, a Associação da Indústria Papeleira (Celpa) sublinha que «o tipo de papel que as empresas do setor gráfico utilizam é, naturalmente,  o papel de Impressão Offset. Portugal, através de uma das associadas da Celpa, a The Navigator Company, é líder europeu na Produção  dos Papéis de Escritório e de Impressão para a Indústria Gráfica. Os papéis  revestidos (também designados coated papers ou papel couché) não são produzidos em Portugal e são naturalmente importados. Alguma importação extracomunitária, de papéis do tipo dos produzidos no país é feita com produtos de gamas de qualidade inferior e a preços consequentemente mais reduzidos».

Para sustentar esta posição, a Celpa recorda, no boletim estatístico de 2015, que num «contexto de informações neutras relativamente às expetativas dos agentes económicos face ao futuro, de taxas de juro negativas e de uma perspetiva de baixo crescimento económico para os próximos anos, o setor da pasta e do papel conseguiu manter os seus níveis de produção, tendo a produção total de pasta (de fibra virgem e de papel para reciclar) aumentado 1,5% e a produção total de papel também crescido 1,5%».

Ainda assim, há empresários que apostam cada vez mais em comprar papel a outros países, a preços que consideram mais acessíveis.

 

Indústria descontente

De braço dado com o problema de haver preços mais caros nos últimos anos e cada vez mais importações de matéria-prima está o eterno problema do eucalipto. Travar ou não a produção tem merecido várias discussões e a decisão do Governo de condicionar a área de plantação levou a indústria do papel a mostrar descontentamento. As maiores empresas do país admitem mesmo acabar com alguns investimentos no país.

Capoulas Santos, ministro da Agricultura, não deixou margens para dúvidas e sublinhou que «não vamos permitir que a área de eucalipto aumente. Mas há muito eucalipto onde não pode estar e há terrenos onde é possível produzir o dobro. O que queremos fazer é reorganizar tudo». Mas a medida não agradou à indústria que não baixa os braços e tem continuado a assumir o descontentamento pela política pensada para os eucaliptos.

Pedro Queiroz Pereira, presidente do conselho de administração da Navigator Company, explica mesmo que «perdem as empresas deste setor, que veem agravada a sua competitividade externa, e perde o país, sob a forma de escoamento de divisas e de destruição de postos de trabalho». Além disso, Queiroz Pereira não esconde que poderão estar em risco futuros investimentos, uma vez que «se torna cada vez mais difícil a vida das empresas produtivas e mais arriscados os investimentos». Mais do que lamentar as medidas anunciadas pelo Governo, o presidente da Navigator Company destaca que falamos de «barreiras e obstáculos à plantação e replantação de eucalipto, que é discriminado em relação a outras fileiras florestais, sem qualquer justificação económica ou ambiental e com a consequência, imediata e a prazo, de um ainda maior abandono de propriedades rurais em Portugal». Mas esta posição não é tomada apenas pela Navigator Company. Também a Altri depressa ameaçou travar os investimentos se Portugal demonizasse o eucalipto. Paulo Fernandes chegou mesmo a aproveitar a assinatura de contratos no valor de 125 milhões de euros na Celbi e Celtejo para deixar avisos muitos claros ao Executivo de António Costa.