Uma edição de Globos de Ouro pelo meio da polémica em torno da Lei do Cinema e do processo de escolha dos júris para os apoios ao cinema e audiovisual, que continua nas mãos da Secção Especializada de Cinema e do Audiovisual (SECA), não podia ter sido de outra maneira. Na apresentação dos nomeados para Melhor Filme não vimos as caras de João Nicolau (“John From”) e Luís Urbano, em representação de Ivo M. Ferreira (“Cartas da Guerra”), mas cartazes que diziam “Não à Lei SECA”. Questão que Luís Urbano, produtor do filme em que Ivo M. Ferreira adaptou “D’ este viver aqui neste papel descripto”, de António Lobo Antunes, voltou a levantar quando subiu ao palco do Coliseu dos Recreios para agradecer em nome do realizador o Globo de Ouro de Melhor Filme para “Cartas da Guerra” e com que já Nuno Lopes (Melhor Ator) tinha aberto também o seu discurso.
“Espero que a lei SECA acabe rapidamente e que se volte a fazer um cinema cujo júri seja idóneo e que lute pelo interesse do cinema nacional e não pelos próprios interesses financeiros”, disse o ator no agradecimento por este seu quarto Globo de Ouro, com Posto-Avançado do Progresso”, de Hugo Vieira da Silva, que estreou no mesmo ano em que “São Jorge”, que só em 2017 chegou às salas portuguesas, lhe deu o prémio de melhor ator na secção Horizontes, em Veneza.
Logo a abrir a entrega dos prémios, a apresentar as nomeadas para o Globo de Ouro de Melhor Atriz, entregue a Ana Padrão, por “Jogo de Damas”, de Patrícia Sequeira, já Rodrigo Guedes de Carvalho tinha alertado para a responsabilidade que têm os artistas, que “podem e devem mostrar que não são apenas sorrisos na passadeira vermelha” e a lembrar que “a arte sempre esteve na primeira linha de resistência contra o mal”. Mais à frente, o convidado Thiago Lacerda não perderia a oportunidade de, ao lado de Luciana Abreu, enviar também o seu "Fora Temer!" para o Brasil.
Houve ainda espaço para homenagem a Luís Miguel Cintra, que com todo o elenco de “Música”, subiu ao palco do Coliseu para receber o Globo de Ouro de Melhor Peça/Espetáculo, num momento em que aproveitou para recordar a Cornucópia, que “acabou” porque “não é possível na nossa terra”. Melhor Atriz de Teatro foi Isabel Abreu, por “Um Diário de Preces”, e o Melhor Ator “João Perry”, por “O Pai”, numa gala que teve Fernando Santos como um dos grandes homenageados. O treinador da Seleção Nacional subiu ao palco por três vezes: para receber o Globo de Melhor Desportista Masculino por Cristiano Ronaldo, depois em nome próprio para o de Melhor Treinador, e por fim para, emocionado, receber das mãos de Francisco Pinto Balsemão o Prémio Mérito e Excelência desta 22.ª edição dos Globos de Ouro, apresentada por João Manzarra, no ano em que a SIC comemora os seus 25 anos.
A lista completa dos premiados da 22.ª edição dos Globos de Ouro:
Melhor Atriz de Cinema: Ana Padrão, em “Jogo de Damas”
Melhor Ator de Cinema: Nuno Lopes, em “Posto-Avançado do Progresso”
Melhor Filme: “Cartas da Guerra”, de Ivo M. Ferreira
Melhor Atriz de Teatro: Isabel Abreu, em “Um Diário de Preces”
Melhor Ator de Teatro: João Perry, em “O Pai”
Melhor Peça/Espetáculo: “Música”, de Luís Miguel Cintra
Melhor Modelo Feminino: Maria Clara
Melhor Modelo Masculino: Francisco Henriques
Melhor Estilista: Luís Carvalho
Melhor Desportista Feminino: Telma Monteiro
Melhor Desportista Masculino: Cristiano Ronaldo
Melhor Treinador: Fernando Santos
Melhor Grupo: Capitão Fausto
Melhor Intérprete Individual: Carminho
Melhor Música do Ano: “O Amor é Assim”, de HMB e Carminho
Revelação do Ano: Beatriz Frazão
Prémio Mérito e Excelência: Fernando Santos