O Banco Central Europeu (BCE) considera que os riscos para a sustentabilidade da dívida pública aumentaram nos últimos seis meses em resultado da potencial subida dos juros e dos riscos políticos nalguns países.
Portugal, tal como a Itália, é um dos países que está na linha da frente do risco do chamado efeito de “bola de neve”.
“Os riscos para a estabilidade financeira que se levantam nos mercados financeiros continuam a ser significativos”, diz o BCE no seu Relatório sobre Estabilidade Financeira (REF) publicado ontem.
A instituição liderada por Mario Draghi sustenta que existe a possibilidade de uma subida abrupta de juros nos países da moeda única.
Segundo o documento, as yields [juros] das obrigações da zona euro podem aumentar repentinamente, sem que haja uma melhoria simultânea das perspetivas de crescimento”, pode ler-se no documento. “Este cenário pode materializar-se através do contágio de yields mais elevadas noutras economias avançadas, em particular nos Estados Unidos”, acrescenta.
A Reserva Federal norte-americana já aumentou os juros duas vezes desde o final do ano passado e a previsão é que o volte fazer outras duas em 2017, se a economia continuar a melhorar. Assim, o BCE aponta para que os yields de ativos de prazos mais longos deverão subir e, tendo em conta o elevado nível de integração entre o mercado dos EUA e europeu, os juros norte-americanos poderão contagiar as obrigações europeias.
Para além disso, na Europa aproxima-se o fim do programa de estímulos, o que levará a uma subida dos juros nos países da moeda única.
“Os esforços para manter as dinâmicas da dívida em situação de sustentabilidade enfrentam desafios nalguns países (como Itália e Portugal) onde as taxas de juro possam subir a um ritmo superior ao do crescimento, levando a um efeito de ‘bola de neve’”, revela o REF.
Como os juros serão superiores ao crescimento entre 2016 e 2018, esse diferencial vai traduzir-se em nova dívida pública, que vai pesar ainda mais sobre as duas economias mais endividadas da zona euro. É este o efeito de bola de neve.
Impacto do Brexit O relatório do BCE reconhece ainda que o Brexit “contribui para a manutenção das incertezas políticas”, mas que o seu impacto na estabilidade financeira será limitado desde que os bancos tomem medidas atempadas.
O BCE considera que o risco de a economia da zona euro sofrer restrições no acesso aos serviços financeiros depois da saída do Reino Unido da União Europeia é diminuto. Ainda assim, a relocalização dos serviços financeiros poderá ser problemática, pelo que o BCE “salienta a necessidade de os bancos procederem a todas as preparações necessárias atempadamente”.
Ao canal do YouTube do BCE, o vice-presidente do banco, Vítor Constâncio, disse que o Brexit “não afetará de forma significativa a atual recuperação da zona euro”.