Como vê este novo brinquedo, que parece estar a atrair desde crianças pequenas a adolescentes?
É diferente de outras modas do passado? Obviamente que há sempre algo de marketing e de lucro, até porque surgem novas impressões, brilhantes, com cores e formas diferentes, e preços que podem ser cada vez mais elevados – às tantas, uma criança já quer os dourados e prateados que os outros têm. No fundo, é um “pião do século XXI”, mas talvez não fosse mau não destruir o que já existe em termos de brinquedos tradicionais, e passar sempre a patamares mais plastificados que, supostamente, parecem mais “evoluídos”, mas não temos de “evoluir” em tudo. Diga-se que o aparecimento deste brinquedo tem origem numa mãe que tinha uma doença muscular e não conseguia brincar com a filha, ou seja, aparece no contexto de uma situação muito objetiva e particular. Se pensarmos que cada peça custa à roda de 6 euros, mais coisa menos coisa, e que as crianças não se vão contentar com uma, nem duas… nem dez, há que ter isto em atenção.
Fala-se em benefícios no controlo da hiperatividade e défice de atenção, mas não existem propriamente estudos que o demonstrem. Vê algum fundamento para isso? Uma das teorias é o facto de os giradores “ocuparem” partes do cérebro que, de outra maneira, iriam causar distração.
Claro que os estudos só surgem algum tempo depois, porque a ciência não consegue acompanhar, para ser feita de modo sério, a explosão da universalização destes jogos ou do que seja.
Mas há provas de que este tipo de movimento funciona?
O movimento de rotação é calmante – veja-se o caso das crianças com síndromas do espetro do autismo, que gostam de ver movimentos de rotação porque lhes dão segurança e calma, contribuindo para vencer o seu “medo interno” que as paralisa e impede a interação com os outros. Essas teorias podem, pois, ter fundamento, mas têm de ser vistas com calma e não se ter a ideia de que estas coisas “salvam a pátria”. Gostava de ver estudos científicos sérios sobre a neurofisiologia destes brinquedos. Creio que, se for usado de modo compulsivo – o que é muito fácil acontecer, até pelo espírito de competição entre as crianças e de “moda” –, pode ser mais um fator de roubo de tempo útil a outras atividades mais calmas, como ler, ou outras mais criativas.
Há o perigo de este tipo de jogos se tornar uma espécie de muleta para “acalmar” e depois ter consequências negativas, quando as crianças se veem privadas deles?
Como em tudo, a questão está no uso moderado e contido. Tenho algumas dúvidas de que alguns pais consigam controlar minimamente o fenómeno. Será mais uma espécie de mania – passageira, acredito, mas mania na mesma – que faz gastar dinheiro e distrai de outras coisas mais importantes. Tirando os casos particulares de crianças com síndromas do espetro do autismo ou síndroma de hiperatividade e défice de atenção moderados ou graves (que não é simplesmente a criança que se distrai, que se dispersa ou que é sonhadora… ou que não aguenta uma aula de hora e meia, que é um massacre, sobretudo com alguns professores), creio que cada um deve desenvolver os fatores internos de resiliência ao stresse sem precisar sempre de “muletas”.
Nos EUA há já escolas que só permitem este brinquedo na sala de aula com atestado médico. Já foi procurado por algum pai com este tipo de pedido? Imagina-se a prescrever este brinquedo, que alguns comparam até às bolas de stresse do passado?
Quanto a ser proibido nas salas de aula, totalmente de acordo. No recreio escolar também deve haver regras; caso contrário, a atividade normal, física, usando os cinco sentidos, fica completamente out. Aliás, é curioso haver uma discussão à roda da exigência de espaços de brincadeira e de recreio amplos – que permitam correr, saltar, usar o corpo – e ao mesmo tempo se permitem ou promovem atividades isoladas em que o corpo está imóvel e só mexem os dedos… como no rato do computador ou nas teclas das consolas e telemóveis. Nunca fui confrontado com esta situação no consultório, mas comparar com as “bolas de stresse” é um passo de gigante. Sem diabolizar o Fidget Spinner, acho que – escaldados com a quantidade de coisas que têm aparecido – temos de estudar o fenómeno e, principalmente, debatê-lo com os nossos filhos, colocando o brinquedo no seu respetivo lugar e contexto.