A ideia de que o caminho para a recuperação das finanças públicas só podia passar pela austeridade redentora do período de execução do Memorando de Entendimento foi definitivamente refutada pelos resultados do modelo acolhido pelo atual Executivo. Quem procurou, ao longo do último ano e meio, convocar a vinda do demónio e o descalabro confrontou-se nos últimos dias com a clareza da realidade dos números.
O desastre que o aumento do salário mínimo provocaria na recuperação do emprego é hoje refutado por uma descida para um dígito dos dados do desemprego e pela criação substancial de postos de trabalho, evidenciando dos melhores números disponíveis na União Europeia.
A fuga de investidores e a estagnação económica a que estaria votado um país governado pela perigosa coligação com a esquerda são refutadas por sucessivos anúncios de novas unidades produtivas, pelo reforço da presença de investidores estrangeiros e por um crescimento da economia acima de todas as previsões.
O descalabro das contas públicas que a devolução dos salários e pensões provocaria é refutado pelo melhor défice na história da democracia, que supera exemplarmente os objetivos traçados e que, mesmo sem receitas extraordinárias, continuaria a cumprir todas as metas europeias.
A impossibilidade de cumprir as obrigações decorrentes dos Tratados, da participação na moeda única ou do Tratado Orçamental, é refutada pela saída do procedimento por défice excessivo e, até, pelos inesperados e peculiares elogios do insuspeito ministro das Finanças alemão, que há bem pouco tempo ainda produzia tiradas agoirentas ou de dúvida persistente.
A instabilidade que o apoio dos partidos à esquerda do PS traria ao sistema político é refutada pela solidez dos acordos em execução, que até ao momento foram a base para a aprovação de dois orçamentos, de todos os documentos estratégicos para a governação e da adoção de inúmeras medidas de valorização dos serviços públicos, de dignificação do trabalho e de combate à precariedade e de aprofundamento da proteção dos direitos fundamentais.
A erosão da base de apoio do Partido Socialista ao centro devido à sua associação ao BE, ao PCP e ao PEV é refutada pela sua subida constante e robusta nos estudos de opinião, ao mesmo tempo que os seus parceiros na solução governativa mantêm sem perdas a sua posição.
Há, seguramente, ainda muito trabalho a fazer, com desafios substanciais na frente da dívida pública, na estabilização do setor financeiro ou na criação de um novo contexto europeu capaz de responder aos desafios da governação do euro.
Parece é cada vez mais evidente que a melhor forma de lhes dar resposta passa mesmo pela alternativa que muitos se recusavam sequer a admitir ser possível…