O seu a seu dono

Percebo que o Partido Socialista queira que os portugueses se esqueçam que foi o Governo do PS de José Sócrates que levou o Estado à bancarrota e criou as condições para a crise económica que tivemos a seguir à crise financeira internacional.

Até percebo que os partidos da esquerda radical, Partido Comunista e Bloco de Esquerda, tenham de engolir sapos e elefantes, pois sabem que, se não apoiarem o Governo de António Costa, a alternativa é um Governo do PSD/CDS.
Agora, não percebo que alguns comentadores, analistas políticos, jornalistas e professores universitários, alguns com doutoramento, comparem a situação deste Governo com a do anterior, ‘esquecendo’ que o Governo anterior recebeu um país em resgate da troika, chamada pelo Partido Socialista, com o défice público de 11,2 % do PIB em 2010, e que não tinha outra alternativa senão aplicar o memorando. 

Inversamente, o atual Governo recebeu um país com o PIB a crescer em cadeia desde o 1.º trimestre de 2013, com o desemprego a descer desde janeiro de 2013 e a dívida pública a descer em 2015.

O que é normal é que, quando uma pessoa intelectualmente honesta se engana, reconheça os seus erros. Foi o que se passou com Olivier Blanchard em relação a países como Portugal, dentro do euro, ao dizer que não se deviam preocupar com o défice externo. O mesmo erro que Vítor Constâncio cometeu como governador do Banco de Portugal.

Ora, finalmente, Olivier Blanchard vem dizer que as reformas estruturais deviam ter sido incluídas no memorando. Era a isto que Passos Coelho se referia com ir «além da troika». Diz também que o empréstimo da troika devia ter sido superior (já se sabe isso desde 2011), pois não incluía as necessidades de financiamento das empresas públicas, e devia ter havido uma redução mais lenta do défice público (já se sabe isso desde 2011, pois Passos Coelho chegou a falar em 4 anos). 

As previsões constantes no memorando da troika estavam erradas, pois o ponto de partida foi muito superior.
 
António Costa está sempre a dizer que o Governo PSD/CDS não cumpriu os défices públicos previstos no memorando da troika e precisou de orçamentos retificativos. Finge esquecer que foi o Governo do Partido Socialista que negociou o memorando, onde estavam as previsões para os défices públicos, a dívida pública, o valor do empréstimo e todas as medidas que tinham de ser implementadas trimestralmente. 

Costa só tem, assim, de se queixar ao Partido Socialista, que falhou redondamente no desenho desse memorando.
Mesmo assim, o anterior Governo conseguiu voltar a financiar-se nos mercados financeiros, nunca falhou nenhuma avaliação trimestral da troika e terminou o memorando na data prevista. 

Pretender agora que António Costa e a ‘geringonça’ têm todo o crédito em tudo o que se passa em Portugal (e com os portugueses) é de um provincianismo e de um nacionalismo digno do Estado Novo. Só falta dizerem que foi graças a António Costa e à ‘geringonça’ que os pastorinhos de Fátima foram beatificados pelo Papa Francisco, que o Benfica ganhou o 36.º campeonato e foi tetra campeão de futebol, e que Salvador Sobral ganhou o Eurofestival da canção.

Quando os arguidos da Operação Marquês forem acusados e levados a julgamento, os portugueses ficarão conscientes de quem são os responsáveis pelos crimes económicos e financeiros que foram cometidos nos últimos 12 anos.

Ficarão também a saber quem foram os governantes que, embora não tenham cometido crimes económicos e financeiros, foram responsáveis por má gestão do Estado e de o ter levado à bancarrota. Espero sinceramente que tenham a hombridade de se demitir das suas funções, pois há também consequências políticas que devem ser assumidas.

Não é admissível que os membros do Governo PS de José Sócrates que foram os verdadeiros responsáveis pelo corte dos salários, pelo corte das pensões, pelo aumento dos impostos, pela falência das empresas, pelo aumento dos desempregados, pelos que tiveram de emigrar e pela perda das suas poupanças, continuem neste Governo como se nada se tivesse passado.

Luís Jacques
Engenheiro Civil