Londres. O terror barato no país da resiliência

A polícia demorou apenas oito minutos a travar os três homens que tentaram matar o máximo com o mínimo. Morreram sete pessoas e 21 estão em estado crítico.

Não é preciso muito para fazer um terrorista na era do apelo indiscriminado ao atentado de oportunidade. Londres demonstrou-o sábado. O desenrolar do mais recente ataque europeu e do terceiro em solo britânico em apenas dois meses já é bem conhecido por esta hora de domingo. Três pessoas lançaram-se numa carrinha branca pela London Bridge atropelando quantas pessoas conseguiram e pelo caminho que puderam até esbarrar contra um raile na interceção do Borough Market.

Era noite de sábado, estava ameno e choviscava apenas. Os atacantes saíram do veículo com três longas facas e passos mais curtos do que seria esperar de quem queria matar o máximo com o mínimo. Esfaquearam quem estava caído e atropelado, correram ocasionalmente pelos bares e restaurantes atacando quem estivesse à mão. Uma mulher no início dos seus vintes, só num exemplo, uma constante nos relatos que jorravam este domingo para a imprensa pela impressão que causou em dezenas de pessoas ao entrar num bar agarrada ao pescoço ensanguentado.

Não andaram muito os atacantes. Em apenas oito minutos, oito polícias chegaram ao seu encalço, rodearam-nos e dispararam mais ou menos 50 tiros de espingarda automática na tentativa de se assegurarem de que um terrorista moribundo não detonaria um colete de explosivos. Não detonaram e os engenhos que pareciam ter atados ao tronco não passavam de um engodo para aterrorizar. Tal como aconteceu há uns curtos dois meses e quase no mesmo sítio, o terrorismo de oportunidade precisou apenas de um veículo e de pouco mais para matar. Em março já um homem se mandara para cima dos peões na Westminster Bridge para em seguida esfaquear até à morte um polícia desarmado. Repetir. Multiplicar.

No velho, o novo

A paisagem política mudou desde março. A social também, mas já lá vamos. Só hoje se completam duas semanas desde o atentado bombista em Manchester contra crianças, adolescentes e os seus pais. O que já na altura demonstrava ser um ritmo terrorista inaceitável para o Reino Unido este domingo era mais uma razão para Theresa May responder com especial severidade. O atentado da noite de sábado foi o terceiro grande ataque em cerca de dois meses e há eleições esta quinta-feira. A primeira-ministra, aliás, concorre com uma plataforma de resposta dura contra o terrorismo, mesmo tendo sido ministra do Interior nos últimos seis anos. Este domingo suspendeu-se a campanha conservadora, mas May fez política ao falar sobre o atentado de Londres.

“É tempo de dizer basta”, afirmou em frente ao número 10, no finalizar de uma reunião do conselho de emergência. May disse que as comunidades muçulmanas no Reino Unido são “demasiado tolerantes no extremismo”, propôs um quadro legal mais severo para crimes dessa natureza, prometeu limpar o espaço virtual de locais seguros para a radicalização e acabar com a segregação interna. Ao início da noite, porém, a imprensa britânica dizia que um dos suspeitos cujo nome ia circulando foi recentemente expulso da mesquita local e que havia queixas de radicalismo dos seus vizinhos. Sabe-se hoje o mesmo do terrorista que atacou Manchester. A sua própria comunidade muçulmana denunciara-o repetidamente às autoridades. Não foi considerado uma ameaça importante, como não são também milhares de pessoas nas listas de suspeitos das autoridades europeias.

Mortos e detenções

Jeremy Corbyn, o líder trabalhista que vem encurtando nos últimos dias a vantagem que os conservadores levavam ao convocarem novas eleições, já fazia campanha ao final da tarde. Também ele tratou de limpar a fama de ser demasiado brando contra a ameaça terrorista, apoiando a ação rápida e letal da polícia na noite de sábado, que parece ter atingido os três suspeitos sem muitas contemplações, na tentativa de evitar mais sangue. O ataque pode ter durado apenas oito minutos, mas mesmo assim morreram sete pessoas e 21 estavam este domingo em estado crítico. A polícia armada estava um pouco por todo o lado na cidade, fizeram-se 12 detenções ao início da tarde – que se saiba, apenas de pessoas ligadas aos suspeitos e não ao próprio ataque – e as autoridades estavam no habitual caminho de tentar apurar se alguma rede terrorista coordenou o atentado – ao início da noite, nenhum grupo reivindicara o ataque, embora o governo britânico fosse falando abertamente de um caso de radicalismo islamista.

Mudou o cenário político desde que um homem se lançou num carro sobre quem avistava em Westminster, sim, mas também mudou o público, que parece agora responder à era do terrorismo de oportunidade com os mesmos símbolos que os jihadistas tendem a atacar – os bares em Paris, um concerto em Manchester, de novo a vida noturna este fim de semana. 130 mil pessoas estavam este domingo à noite no concerto que a cantora pop americana Ariana Grande convocou por solidariedade com as vítimas em Manchester e que adquiria dimensões inesperadas. Com 130 mil pessoas em Manchesxter, segundo as autoridades policiais, depois do terceiro ataque em três meses, a mensagem era nítida e de resiliência. Ao “todos somos Manchester”, acrescentou-se o “todos somos Londres”. “Não podemos ficar em casa assustados”, dizia ao “El País” uma jovem mãe no concerto de Manchester, com a sua filha de 11 anos. “Isso é o que os terroristas querem e não podemos permiti-lo”, completou.