Joaquim Raposo. “Se for eleito presidente faço referendo ao SATU”

Candidato do PS promete parar novo fórum municipal e usar os 40 milhões de euros destinados à construção em acessibilidade e na área social.

O desafio de Oeiras é ou não um risco?

Candidaturas de risco, sempre as tive. A primeira vez, na Amadora, também foi de risco. Havia um passado com 18 anos de gestão comunista. Aceitei. Todos diziam que era impossível ganhar, tendo em conta o candidato no poder há 18 anos, assim como o candidato do PSD, Pedro Passos Coelho. Era uma candidatura para perder. Mas certo é que o PS ganhou e conseguiu-o com os projetos que apresentou. E alguns são conhecidos de toda a gente – um deles, o metro na Amadora, com estações na Falagueira, Alfornelos e Reboleira. As pessoa acreditaram e foi possível. E, a partir daí, fui renovando os mandatos com maioria absoluta.

E Oeiras porquê?

Porque conheço bem Oeiras, até pela ligação que este concelho teve à Amadora (era uma freguesia de Oeiras até 1979, quando foi elevada a concelho). Depois, como presidente da Amadora. Tivemos serviços municipalizados comuns aos dois concelhos. Como tal, tive de trabalhar muitas vezes com Oeiras. Conheço bem o seu território.

Isaltino Morais é o adversário direto?

Não considero que seja um adversário. Conheço-o bem, há muitos anos. Mantivemos durante muito tempo reuniões conjuntas. Participámos em empresas em que os dois municípios estavam associados. Tenho amizade e reconhecimento pelo trabalho que cada um fez. Nada a dizer sobre o candidato Isaltino Morais. Todos os adversários são úteis desde que tenham projeto e valorizem o território. O meu adversário será sempre a abstenção. Como se sabe, nas autárquicas aumenta a abstenção. Muitas pessoas ficam em casa. O importante é combater a abstenção, mobilizar os eleitores. Se assim for, o PS pode ter dividendos e ganhar as eleições.

Eleito presidente, convida Isaltino? E se for ao contrário, aceita?

Deixe-me recordar a primeira experiência na Amadora. Ganhei com quatro vereadores, PCP quatro e PSD/CDS três. Habituei-me a partilhar o poder. Todas as forças tiveram pelouros distribuídos. E não me dei mal com isso. De tal forma que, a seguir, ganhei com maioria absoluta. Farei o mesmo aqui. Conheço todos os candidatos. Todos seriam uma mais-valia para trabalharem para um projeto comum, o projeto de Oeiras. Independentemente do resultado que tiver – maioria ou não -, irei sempre desafiar as outras candidaturas a fazerem parte do projeto, que passa por fazer mais e melhor para Oeiras.

Pensa, como outros candidatos, que Oeiras parou no tempo?

Pauto a minha campanha por não fazer nenhumas críticas a Isaltino Morais e a Paulo Vistas. Entendo que cada um tem ou teve um papel em Oeiras. O meu lema é fazer o que não foi feito. Não é uma crítica em relação ao passado. Falta é fazer muita coisa, nomeadamente na mobilidade, transportes, ambiente, educação e área social. Não é criticar o que foi feito anteriormente, se foi bem ou mal feito. Importante para Oeiras é aquilo que os seus autarcas conseguiram fazer até hoje.

O que devia ter sido feito?

Sem dúvida, melhorar as acessibilidades. Estas aparecem porque é importante, e não porque é preciso construir por construir. E penso que as pessoas começaram hoje a perceber isso. E porquê? Porque aquela ideia que existia no passado de se trazerem empresas para o concelho está agora a seguir um caminho inverso. Neste momento há cada vez mais empresas a querer sair do concelho porque há dificuldades na mobilidade e o concelho é caro.

Quer concretizar?

Para já, penso em três questões. Em primeiro, repito, as acessibilidades (ou a falta delas). Em segundo, os preços. E depois surge uma terceira: aqueles que vêm de fora para trabalhar no concelho não têm condições para viver aqui. O custo das casas é muito elevado. O aluguer está caro e a isto junta-se, por exemplo, a falta de uma boa rede de creches para acolher crianças.

Vamos às acessibilidades. Oeiras é servida por uma autoestrada (A5), uma estrada nacional, a marginal, tem uma linha de comboio…

É verdade mas, hoje, quem conhece Oeiras sabe que existem três ou quatro problemas graves associados às saídas e entradas no concelho. Isso acontece na A5, na CRIL e na Marginal. E ainda há a CREL, cuja vocação não é servi-la. É mais um daqueles casos de grandes vias exteriores criadas para facilitar a vida a quem entra na grande cidade, e não para servir quem vive nos territórios que cruzam. Resolver as acessibilidades é a prioridade do meu mandato.

Mas isso é assim tão dramático?

Só não é para quem não tem de entrar e sair todos os dias. Além de fazer perder muitas horas a quem sai e entra, há a questão da atração de empresas. É impossível estas conseguirem atrair clientes se essas dificuldades continuarem, com tendência para se agravarem. Essa é uma das primeiras questões que é preciso resolver.

Falou das acessibilidades. E os transportes?

Essa é outra questão, uma grande questão. Há muito que sou defensor de que o metropolitano não deve ser um exclusivo para o concelho de Lisboa. Bati-me por isso e levei-o até à Amadora. Mas tendo em conta a situação atual e o que é conhecido do plano de expansão do metro, dificilmente chegará a Oeiras nos próximos 20 anos. Por isso, não vou prometer o que não posso fazer.

Alternativas?

Há uma linha de comboio que serve a população do concelho de Oeiras [Cascais e Lisboa]. 

Mas tem vindo a perder utilizadores?

Já lá vamos. Estou a falar, como sabem, da Linha de Cascais ou do Estoril, como é conhecida. Mas é uma linha que tem de ter investimento, e isso deixou de acontecer há muito. Não só nas estações, mas também no material circulante. É, atualmente, passe a expressão, uma linha terceiro-mundista. Precisa urgentemente de reabilitação. Para servir as populações, mas também quem nos visita. Está numa zona turística, não se compreende que esteja como está, ultrapassada no tempo. Por isso, deixo aqui uma garantia. Já tive oportunidade de falar com os membros do governo que tutelam a área e, no âmbito do próximo quadro comunitário de apoio, está assegurado que vai haver investimento naquelas duas áreas. 

Então, problema resolvido…

Não. Tem de se construir interfaces. Se queremos que as pessoas não levem os carros para Lisboa, temos de encontrar alternativas, nomeadamente parques de estacionamento junto a interfaces de transportes, rodoviários e ferroviários. Para isso vamos propor a criação de uma nova estação no Espargal [entre Paço de Arcos e Oeiras]. O projeto está feito, é realizável e vai ajudar a resolver problemas. Mas também é preciso fazer uma intervenção na interface de Algés. Não gosto do aspeto. É impessoal e visualmente agressivo. Para esta temos também uma proposta de modernização, para a tornar mais confortável. Afinal, trata-se de uma porta de entrada e saída no concelho. Associado a isso vai construir-se um parque de estacionamento para 1500 viaturas junto à estação, mas do lado do mar.

O metro distante de servir Oeiras, um caminho-de-ferro obsoleto… qual é a alternativa?

Gostávamos de recuperar um projeto que tem já uns anos e nunca saiu do papel. Tem a ver com a ligação de Alcântara à parte oriental da cidade. 

Mas isso é Lisboa, e estamos a falar de Oeiras.

Sim, mas esse é um dos problemas para os quais entendemos que têm de existir políticas integradas que sirvam várias entidades (concelhos). Como dizia, esse tal projeto a partir de Alcântara permitiria servir áreas como Campolide, Sete Rios, Entrecampos, Avenida de Roma e Parque das Nações, espaços onde há cruzamento de comboio e metropolitano. Ou seja, isso permite criar um movimento de transportes que privilegia a distribuição de pessoas para outras zonas da cidade a partir de Alcântara, para quem vem ou vai para os concelhos de Oeiras e Cascais, assim como Amadora e Sintra (Campolide). 

Mas é candidato a Oeiras…

Sim, sim. Mas eu próprio já falei com o presidente da Câmara de Lisboa. E o sentimento que há é de que, sendo importante para Lisboa, também é muito importante para outros concelhos, designadamente Oeiras. Há políticas aqui com as quais estaremos todos de acordo, Lisboa, Oeiras, etc.: melhores transportes, melhores acessibilidades, melhor qualidade ambiental e de vida para os cidadãos. E por falar em sustentabilidade, ainda tenho o projeto metrobus, uma infraestrutura que existe em vários países.

Quer explicar?

Começámos a pensar num sistema de metrobus em 1999. Por razões que agora não interessa explicar foi um projeto adiado. Nós propomo-nos ativá-lo. São autocarros modernos, de grande capacidade e elétricos (custam o dobro dos autocarros normais, mas o diferencial de preço é financiado a 80% por fundos comunitários porque estamos a falar de transportes limpos), e que podem servir de forma integrada mais do que um concelho. Queremos criar um corredor bus na A5 e fazer ligações entre diversos pontos do concelho de Oeiras aos concelhos limítrofes, e assim criar uma rede sustentável de transportes para as cidades e as pessoas.

A propósito de transporte limpo: e o SATU (Sistema Automático de Transporte Urbano) que ligaria Paço de Arcos ao Cacém e não passou do Oeiras Shopping?

Isso é um problema real do qual não podemos fugir. E, por isso, o que proponho é chamar a população a pronunciar-se em referendo local sobre o destino a dar a um projeto que custou milhões, que encalhou por custar mais milhões e, se a opção for desmontá-lo, vai custar outros tantos milhões. Repito, esse é um dos meus compromissos com os eleitores. Acredito que as pessoas se dividem. Por isso serão convocadas para decidir o futuro do SATU em referendo.

Acessibilidades, transportes, fixar população. Tudo isso custa dinheiro. Há financiamento para tudo?

No capítulo das acessibilidades (rede viária), os custos estão todos estimados. Obra a obra, entre a A5, CREL, CRIL e Marginal, grosso modo, estou a falar de projetos na ordem dos 30 milhões. A maioria das coisas está lá. Agora é preciso completá-las.

Sim, mas como as financia?

Simples. Trata-se de uma decisão política que já tomei. A câmara aprovou há pouco tempo o lançamento do concurso para a construção do fórum municipal, um novo edifício que vai acolher os serviços municipais. Não há necessidade de avançar com esse projeto, nem sequer o vejo como uma prioridade municipal. É um exagero e não faz sentido. Trata-se de um projeto orçado em 40 milhões mas, como acontece por vezes, até pode ultrapassar esse valor. Como esse dinheiro já existe, se for eleito presidente, essa obra não avançará. Depois é uma questão de reorientar a aplicação dessas verbas: 30 milhões para as acessibilidades e 10 milhões para a área social como, por exemplo, o apoio aos idosos (Oeiras é o terceiro concelho da área metropolitana com população mais envelhecida), a criação de incentivos para a fixação de jovens, a melhoria da rede de infantários e creches, etc.

E esse dinheiro chega?

Não. O concelho tem receitas fortes e é preciso mais equilíbrio na gestão. 

Mas não é isso que dizem todos os candidatos, que é preciso gerir melhor?

Nessa matéria, estou à vontade. A Amadora foi durante anos a primeira do ranking em termos de eficiência financeira. É preciso cortar nas gorduras e eleger as prioridades de investimento: transportes, acessibilidades, escolas, área social.

O PS está preparado para vencer as eleições autárquicas?

Vim em 1980 para o PS. Convivi com todos os líderes desde Mário Soares até, agora, a António Costa. Claro que o partido, hoje, já não é o mesmo. Há uma outra abertura. Tem um bom líder. Acredito que está mais do que preparado para as eleições. Vai não só vencê-las como reforçar-se ao nível local.

E a geringonça?

Já o disse na comissão política do PS: só António Costa tinha condições para fazer este acordo, até pela sua experiência passada. Portanto, a geringonça funciona. Cada partido não abdica da sua identidade, nem fazia qualquer sentido que isso acontecesse. Se o fizessem, isto seria partido único. Importante é cada um ter a sua estratégia, política e objetivos. Desde que haja princípios de entendimento e respeito mútuo, as coisas funcionam bem, como até agora. 

Quando foi presidente da Câmara da Amadora foram levantadas algumas suspeitas sobre a sua atuação, designadamente a falta de transparência nalgumas decisões. Vive tranquilo?

Sobre isso, o que digo, com tranquilidade absoluta, é que houve durante todos esses 16 anos algumas inspeções que acabaram todas arquivadas. Porque não haveria de ter a consciência tranquila? Nada aconteceu, nem se passou nada. Por isso… 

Isaltino Morais foi julgado, condenado e cumpriu pena de prisão efetiva. Isso pode vir a ser tema da campanha?

Da minha parte, da minha candidatura não haverá ataques pessoais a nenhuma candidatura. Tenho muito respeito pelas pessoas que aceitam candidatar-se ao poder autárquico. 

Oeiras pode vir a funcionar com um executivo que vai juntar à mesma mesa mais do que um antigo presidente de câmara. Isso é positivo ou negativo?

Desde que se consigam alguns equilíbrios e definir regras, penso que é uma mais-valia. Em condições ideais, se estivesse tudo a puxar para o mesmo lado, podíamos ter aqui um superpresidente, uma vez que podia beneficiar da experiência acumulada dos seus ex-pares. Mas admito que esse conhecimento acumulado por cada um, posto ao serviço de Oeiras, pode vir a ser muito útil à população. É para isso que as pessoas votam. Para que se façam bem as coisas.

Se vencer, conta com todos?

A minha campanha vai ser por ideias e projetos. Se ganhar, irei desafiar todos para fazerem parte da gestão municipal. Independentemente de elegerem, três, dois ou um vereador. Não excluirei ninguém.

Bom resultado é ganhar. Mas há outros possíveis? Se perder, fica? O que é um bom resultado? 

Não vou dizer que um bom resultado é ter mais um voto do que no passado. Isso não será um bom resultado. Mas o PS ficará bem representado na vereação. Não tenho dúvida alguma.