João Semedo era a grande aposta do Bloco de Esquerda para, finalmente, conseguir entrar na vereação da Câmara Municipal do Porto. Mas uma recaída no problema de saúde que já o tinha atingido em 2013 e 2015 obrigou a uma troca de posições com João Teixeira Lopes, um repetente nestas andanças.
No início de março ficou a saber-se que João Semedo, um antigo militante do PCP – que coordenou o Bloco de Esquerda em conjunto com Catarina Martins depois da saída de Francisco Louçã – era o candidato do BE à Câmara do Porto. João Teixeira Lopes, que tinha concorrido, sem êxito, por três vezes à câmara – 2001, 2005 e 2009 -, desta vez era o cabeça-de-lista à assembleia municipal. José Soeiro foi o candidato em 2013.
Ontem, ao princípio da manhã os portuenses e o país ficaram a saber que João Semedo, por razões de saúde, tinha renunciado à corrida à câmara. Todavia, o ex-candidato mantém-se na disputa autárquica, trocando de posição com João Teixeira Lopes e assumindo o primeiro lugar da lista do Bloco à Assembleia Municipal. Em conferência de imprensa onde apareceu ao lado da coordenadora do BE, Catarina Martins, Semedo explicou o que o levou a renunciar: um problema de saúde que surgiu de forma “súbita e inesperada” e que exige tratamento imediato e que torna impossível manter o registo de uma candidatura à Câmara do Porto.
Por via disso, anunciou que dava “hoje por concluída a candidatura e a atividade” política ligada a esse objetivo.
Mas algumas horas antes do anúncio oficial, um grupo restrito de pessoas ficou a saber da decisão do antigo candidato através de um email que fez chegar a “amigas e amigos”.
“Há poucos dias, de forma súbita e inesperada, fiquei a saber que tenho um problema de saúde que exige imediato tratamento. Sim, está relacionado com o problema que tive entre 2013 e 2015. Esse tratamento é inadiável e é incompatível com a campanha eleitoral que tenho vindo a fazer, não permitindo manter-me como o seu principal protagonista.
A consequência natural de tudo isto é deixar de ser candidato à Câmara Municipal do Porto, decisão que divulgarei esta terça-feira. Se, entretanto, já tiverem lido estas linhas, não serão apanhados desprevenidos. Sei que não levarão a mal não vos falar pessoalmente mas faltou-me o tempo e o ânimo. Peço reserva sobre o assunto até ele ser publicamente conhecido. E é tudo, até breve”, lia-se na mensagem distribuída ao final da noite de segunda-feira.
Ontem, em declarações ao i, João Teixeira Lopes reafirmou o empenho da candidatura do BE em conseguir pela primeira vez a eleição para a câmara.
“Os objetivos da candidatura mantêm-se. Queremos estar representados na vereação. Um bom resultado é eleger vereadores. Continuamos a contar com o contributo de João Semedo, dentro das suas possibilidades. Com as suas ideias, inteligência e sentido crítico”, disse.
João Teixeira Lopes admitiu que o Bloco tem obtido “fracos resultados para a câmara”, alcançando votações na ordem dos “5%, valor que sobe para os 7,5, 8,0% para a assembleia municipal, o que revela potencial de crescimento do partido no concelho do Porto”.
“Hoje, também por via do novo quadro político, o Bloco está mais implantado a nível nacional e acredito que isso vai refletir-se na campanha e nos resultados”, disse o novo cabeça-de-lista.
O também professor universitário considerou ainda “atípica a campanha para o Porto”, dando como exemplo “o caso do candidato do PS” que, disse, “saiu sem querer sair e que tem como principal projeto voltar a ser acolhido por Rui Moreira na vereação”. “Além disso, Rui Moreira, se não tiver maioria absoluta, que acredito que não vai conseguir, vai voltar-se para o PS ou até mesmo para o PSD. Ora é aí, nessa confusão e indefinição, nessa politiquice, que a candidatura do Bloco ganha alguma vantagem”, concluiu.
João Teixeira Lopes remeteu a formalização da candidatura e do manifesto eleitoral para o final deste mês. Além de Teixeira Lopes, concorrem ao Porto Manuel Pizarro, PS, Rui Moreira, lista de cidadãos independentes, Álvaro Almeida, PSD e Ilda Figueiredo, CDU.